Você não me pega…

Música chiclete. Esqueça o chiclete, fale de música! foto: Ric e Ette, no Flickr
Música chiclete. Esqueça o chiclete, fale de música! foto: Ric e Ette, no Flickr

Tá o maior bafafá na internet: a revista Época dessa semana classificou o Michel Teló como o tradutor dos valores da cultura popular brasileira. Em seguida, Bruno Medina (do Los Hermanos) publicou em seu blog uma carta aberta a Michel Teló – ai, como ele tá bandido, cantando o hit-grude “Ai se eu te pego” – e a Sharon, compositora e estrela de Hollywood rebateu.

No Facebook, a discussão dividiu a sociedade, tal qual ruralistas e ambientalistas se degladiavam há pouco tempo na Câmara e no Senado, na discussão do Código Florestal: os pró-“se eu te pego” e os contra.

Há quem defenda Michel Teló, dizendo que parte da classe média é elitizada e metida a besta (não deixa de ter razão) e aceita muito fácil os produtos importados, mas mal sabe aproveitar e reconhecer os nossos produtos de exportação. Os contrários, falam sobre a falta de letra e a facilidade que é criar grudes melódicos. E reclamam da dancinha do garoto.

O debate é importante? Não. O importante é que o Banco Real tem o Realmaster.

Pra mim, a lógica é a seguinte: duvido que o bom apreciador de Frank Sinatra e Elvis Presley valorize Britney Spears ou Rihana, só porque as duas exportam a cultura de seu país. Do mesmo modo, não gosto do Michel Teló, bom fã do nosso samba, nova MPB e roquenrol nacional que sou. Estou literalmente cagando pro fato de ele estar estourado no exterior. É ruim.

Preconceito? Não. A Festa Estranha, evento que promovo todos os anos, é uma mostra disso. Na festa, o auge é a “Dança da Cordinha”, do É o Tchan. Adoro trash dos anos 80 e 90. Não gosto do Michel Teló porque a música dele não tem a menor graça. Acho mais divertido cantarolar que “samurai quer sushi pra comer”, e rir do perverso duplo sentido da mente do compositor, do que repetir “delícia, delícia, assim você me mata”. Do mesmo modo, acho horrível o tchetchereretchetchê do Gustavo Lima. E assim por diante.

O fato é que quem gosta vai continuar gostando, quem não gosta vai continuar detestando. E que, desculpem os elitistas, Michel Teló pode até ser produto da indústria cultural, mas é cultura. Fabricada, mas cultura. Claro que não tem nada de tradutor dos valores da cultura popular brasileira, mas é cultura. Sorry, caiu há muito aquele conceito forjado pelas elites, tempos atrás, de que cultura é aquilo que é apreciado por elas.

Mas, repito, esse debate e o que penso a respeito, não tem a menor importância.

Importantes são os seguintes dados:

– Em 13 de dezembro, a Câmara aprovou a chamada PEC da Música. Pelo dispositivo, CDs e DVDs ganham imunidade tributária.

– A matéria vai começar o ano no Senado. Hoje, apenas os CDs e DVDs produzidos na Zona Franca de Manaus tem essa imunidade – o que, de acordo com Chico César (cantor e secretário de Cultura da Paraíba), faz com que os discos de Madonna e Beyoncé sejam mais baratos do que os produtos nacionais. É que, conta ele, as únicas gravadoras a produzirem lá são gravadoras gringas.

– Enquanto a PEC não é aprovada, o tecnobrega já estruturou um modelo de negócios próprio com a pirataria.

– A conterrânea do tecnobrega, Gaby Amarantos, e o rapper Emicida, dizem que querem mais é ser pirateados.

Tanto assunto importante na música brasileira e o mundo se preocupando com o “ai, se eu te pego”… Vamos falar de coisa séria?

Um comentário sobre “Você não me pega…

  1. Delícia, delícia, assim você me mata! Ai seu eu te pego! Ai ai se eu te pego!!
    Tudo é cultura. Tudo é válido desde que não te agrida, mas nego tem sempre que tomar partido e brigar por bobagem…

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