
Tá o maior bafafá na internet: a revista Época dessa semana classificou o Michel Teló como o tradutor dos valores da cultura popular brasileira. Em seguida, Bruno Medina (do Los Hermanos) publicou em seu blog uma carta aberta a Michel Teló – ai, como ele tá bandido, cantando o hit-grude “Ai se eu te pego” – e a Sharon, compositora e estrela de Hollywood rebateu.
No Facebook, a discussão dividiu a sociedade, tal qual ruralistas e ambientalistas se degladiavam há pouco tempo na Câmara e no Senado, na discussão do Código Florestal: os pró-“se eu te pego” e os contra.
Há quem defenda Michel Teló, dizendo que parte da classe média é elitizada e metida a besta (não deixa de ter razão) e aceita muito fácil os produtos importados, mas mal sabe aproveitar e reconhecer os nossos produtos de exportação. Os contrários, falam sobre a falta de letra e a facilidade que é criar grudes melódicos. E reclamam da dancinha do garoto.
O debate é importante? Não. O importante é que o Banco Real tem o Realmaster.
Pra mim, a lógica é a seguinte: duvido que o bom apreciador de Frank Sinatra e Elvis Presley valorize Britney Spears ou Rihana, só porque as duas exportam a cultura de seu país. Do mesmo modo, não gosto do Michel Teló, bom fã do nosso samba, nova MPB e roquenrol nacional que sou. Estou literalmente cagando pro fato de ele estar estourado no exterior. É ruim.
Preconceito? Não. A Festa Estranha, evento que promovo todos os anos, é uma mostra disso. Na festa, o auge é a “Dança da Cordinha”, do É o Tchan. Adoro trash dos anos 80 e 90. Não gosto do Michel Teló porque a música dele não tem a menor graça. Acho mais divertido cantarolar que “samurai quer sushi pra comer”, e rir do perverso duplo sentido da mente do compositor, do que repetir “delícia, delícia, assim você me mata”. Do mesmo modo, acho horrível o tchetchereretchetchê do Gustavo Lima. E assim por diante.
O fato é que quem gosta vai continuar gostando, quem não gosta vai continuar detestando. E que, desculpem os elitistas, Michel Teló pode até ser produto da indústria cultural, mas é cultura. Fabricada, mas cultura. Claro que não tem nada de tradutor dos valores da cultura popular brasileira, mas é cultura. Sorry, caiu há muito aquele conceito forjado pelas elites, tempos atrás, de que cultura é aquilo que é apreciado por elas.
Mas, repito, esse debate e o que penso a respeito, não tem a menor importância.
Importantes são os seguintes dados:
– Em 13 de dezembro, a Câmara aprovou a chamada PEC da Música. Pelo dispositivo, CDs e DVDs ganham imunidade tributária.
– A matéria vai começar o ano no Senado. Hoje, apenas os CDs e DVDs produzidos na Zona Franca de Manaus tem essa imunidade – o que, de acordo com Chico César (cantor e secretário de Cultura da Paraíba), faz com que os discos de Madonna e Beyoncé sejam mais baratos do que os produtos nacionais. É que, conta ele, as únicas gravadoras a produzirem lá são gravadoras gringas.
– Enquanto a PEC não é aprovada, o tecnobrega já estruturou um modelo de negócios próprio com a pirataria.
– A conterrânea do tecnobrega, Gaby Amarantos, e o rapper Emicida, dizem que querem mais é ser pirateados.
Tanto assunto importante na música brasileira e o mundo se preocupando com o “ai, se eu te pego”… Vamos falar de coisa séria?
Delícia, delícia, assim você me mata! Ai seu eu te pego! Ai ai se eu te pego!!
Tudo é cultura. Tudo é válido desde que não te agrida, mas nego tem sempre que tomar partido e brigar por bobagem…