Sim, ele é bonito. Bonitão, aliás. Mas se você procura, nesta entrevista, detalhes sobre sua vida íntima ou saber seu status de relacionamento, esqueça. Com uma trajetória marcada por mais de vinte trabalhos em 14 anos de TV Globo, pelo menos dez aparições em filmes e devoção ao teatro, Alejandro Claveaux tem muito mais a falar
Ator, goiano, 38 anos, filho de uruguaios e de família francesa e espanhola, Alejandro se formou em Engenharia de Produção – e chegou até a abrir uma fábrica de sorvetes. Mas fazia teatro na universidade para ganhar bolsa e acabou se apaixonando pela arte. Na última vez em que esteve em Brasília, em fevereiro de 2019, apresentou Gota D’Água (a seco), um musical de Chico Buarque e Paulo Pontes, que seguiu em turnê pelo Brasil, e no qual dividiu o palco com a atriz Laila Garin. Foi quando conversamos pela primeira vez e produzi esta reportagem para a revista GPS Lifetime. Meses após, conversamos novamente para o projeto do podcast “Quando Eu Era Pequeno”, que acabou não rolando na época, mas agora tamo aqui, botando no ar como já devia ter feito há tempos. Depois da entrevista, fez mais um imenso sucesso em Amor de Mãe. Estou resgatando essas prosas, nesse espaço, para: 1) que não se perca, 2) falarmos sobre como o artista se posiciona neste momento – e como pareceu um presságio falar em “bois” em pleno início de governo, quando ainda não se chamava os seguidores do presidente de “gado”.
“Passei minha infância vindo a Brasília com meu pai”, lembrou, sobre a relação com a cidade. E o assunto política correu solto – tantos outros mais: drogas, meio ambiente, meditação. Despojado, estava no camarim, prestes a entrar em cena. Imagens de santos e orixás faziam da penteadeira um oratório. “Eu já estudei muito o espiritismo. Mas foi na meditação que me encontrei. Eu fiz uma meditação chamada Vipassana. Fiquei onze dias em silêncio, meditando, sem falar, e pratico há três anos. Junta um pouco de tudo o que acredito”, revela.
A prosa segue, e falamos sobre família. “Meus pais nunca aprenderam a falar português. Moram há 40 anos em Goiânia e falam espanhol o tempo todo, e minha avó vive com a gente também”, diz o torcedor do Goiás Esporte Clube, emendando que não é difícil encontrá-lo circulando por terras goianas, especialmente nas cachoeiras de Pirenópolis.
Foi o lar de pais e avó uruguaios que garantiu o contato íntimo com a rica cultura do país vizinho: “chimarrão, tomamos todo dia. Muita carne, alfajor… O Uruguai é um lugar que eu quero morar. Ainda mais porque é um país que está muito à frente”, decreta. Questionado em relação a quê, ele é enfático: “aos agrotóxicos, às drogas… Desde quando a maconha foi liberada para consumo, os casos de violência e os assassinatos por causa do tráfico diminuíram muito. Até o consumo de outras drogas. O Brasil usa os piores agrotóxicos e nas piores quantidades possíveis”.
“Você está triste?”, perguntei, quando começamos a falar sobre política. Ele: claro. Triste com o momento atual do país, não com o ofício de ator. “Acho muito triste como os governantes atuais olham para os necessitados, para a natureza, para a Amazônia, para os índios, é tudo tão assustador que parece mentira. A gente vê agora o Jean (Wyllys), que teve que ir embora porque foi ameaçado… Então, que País é esse? Pra onde vai? É muito perigoso”, acredita.
“Se você tem pessoas sem acesso a arte e cultura, você tem bois. É muito mais fácil manipular os bois”
Já estava claro, desde o princípio, que eu estava longe de conversar com um galã ou um ator deslumbrado com o ofício. Mas neste instante, o de demonstrar preocupações, causas, posicionamentos, isso se tornou ainda mais nítido. “Se você tem pessoas sem acesso a arte e cultura, você tem bois. É muito mais fácil manipular os bois, dizer que eles não têm o direito de pensar e de ter as próprias escolhas. Foram cortados incentivos da Petrobras, o próprio Ministério [da Cultura]… Então esse é o primeiro plano para emburrecer as pessoas. E o papel do teatro, ou de qualquer movimento que narre o que está acontecendo sobre a nossa vida no presente, é abrir a cabeça das pessoas. Resistir”, sentencia.
Brasília teve papel importante na escolha pela profissão. E o motivo é o diretor Hugo Rodas, que assim como seus pais, é uruguaio, porém radicado há mais de 40 anos na capital federal. “O Hugo… Eu o conheci aqui em Brasília durante os festivais. Vi Seis Personagens em Busca de um Ator, uma montagem dele que eu amei”, conta. A loucura de mudar para o Rio, como costuma falar, foi para investir na carreira de ator, estreando na peça Clandestinos, de João Falcão, que ficou quase quatro anos em cartaz e depois virou série na tevê – sua estreia na telinha. Uma loucura que deu certo. E não parou mais.
Entre participações, personagens em novelas, seriados, esteve em cerca de 23 produções na Rede Globo nos últimos 12 anos. “Caramba”, ele se impressiona, quando apresentei este número a ele – que não tinha feito a conta ainda (e foi um cálculo rápido, baseado em Wikipedia). Claveaux deu vida a vários vilões na televisão, como Moisés em Malhação, mas se destacou como o policial Nicolau, em 2018, em O Outro Lado do Paraíso – personagem “do bem”, e que se aproxima bastante do que Claveaux é. Acaba de viver Tales, em Amor de Mãe, e já na sequência, com a reprise de Império, fez nova aparição como Josué (na primeira fase da novela).
Fora isso, esteve no cinema – Os Homens São de Marte e É pra lá que Eu Vou e Uma Quase Dupla são alguns dos filmes – e no teatro, incontáveis vezes, desde 2005. A felicidade mora no fato de que é pela arte que encontra o meio de combater o que critica: “não só na arte, mas na maneira como eu me expresso na rua, nas redes sociais… Eu acho que a gente tem que fazer algo. Não dá para deixar as coisas acontecerem e serem destruídas assim”.
Este texto foi originalmente publicado na Revista GPS Lifetime.
QUANDO ELE ERA PEQUENO…
Tá aqui a prosa, em áudio! Em breve farei um vídeo com este áudio, pois toda quinta-feira publico o quadro com este nome no canal do Youtube. E a conversa foi no momento em que ele tinha ido à Goiânia para comemorar o aniversário da vovó (cuja foto tá aí em cima), que estava fazendo 100 anos. Uma infância pé de Toddy, com muita jabuticaba, gagueira, corpo gordinho… uma infância muito feliz em Goiânia, ouve aí!!