Feliz (Lula) 2022!

Assim como quem tem limite é município, isento é quem não precisa declarar Imposto de Renda. Parafraseando Francisco, El Hombre, “nada conterá a primavera” e que este 2022 seja o de ver renascer a esperança para a cultura e soterrar o ódio que se abateu sobre ela e a sufocou nos últimos três anos.

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Lula, a essa altura do campeonato e da vida, certamente planejava chegar a 2022 aposentado e sem precisar se meter no caldeirão político do país, não fosse a truculência policial de 2013 que revoltou um bando de gente quando a PM paulista desceu o cacete em manifestantes que lutavam contra um reajuste de 20 centavos no preço das passagens de ônibus. Quando essa gente revoltada resolveu ir às ruas, as revoltas mais classemedianas começaram a berrar mais alto e “eu sou brasileiro com muito orgulho e com muito amor”, hino nacional e “sem violência” sufocaram as vozes da periferia, que berrava contra a elevação de um valor muito caro para quem enfrentava conduções e mais conduções diárias. Assim nasceram MBL, Vem Pra Rua, e com eles foi se estruturando um golpe branco cis hétero contra a sucessora que, verdade seja dita, tinha pouca capacidade política de conduzir o país, mas que não cometeu crime de responsabilidade para ser ceifada do cargo. Do grande acordo nacional, com o Supremo, com tudo, e de uma facada que mexeu com as comoções mais irracionais do povo brasileiro – retirando um incompetente dos debates e levando-o à cadeira mais alta do país por coitadismo, chegamos aqui. Com uma corja asquerosa, nojenta, a quem o esgoto e a lata do lixo da História reservam seus lugares.

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Lembro-me como se fosse agora quando Dilma tentou empossar Lula como chefe da Casa Civil e inúmeras pessoas, conhecidas inclusive, se moveram rumo à porta do Planalto para protestar, porque criam que a intenção era a de dar foro privilegiado a Lula. A articulação política estava, à época, nas mãos de Mercadante, o que era um erro grotesco daquele governo, e Lula certamente apaziguaria os ânimos. Mas a elite financeira já chocava o ovo da serpente, o vampiro que faria o congelamento dos gastos públicos – dentre os quais, saúde e educação (pautas genéricas que sufocavam os gritos dos 20 centavos nas ruas de São Paulo) – por 20 anos e a Faria Lima vibraria. Em seguida, a Petrobras seria entregue ao capital estrangeiro e os preços do combustível explodiriam feito os Estados Unidos faziam com as refinarias do Kuwait na Guerra do Golfo. Acabaria-se com a política de estoque de alimentos e bombardear-se-ia a reforma agrária, dando ao agronegócio a chance de exportar toda a produção e encarecer o alimento que nos dá segurança contra a fome, o arroz.

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Um ator político do tamanho de Lula jamais poderia estar à solta enquanto os gafanhotos estivessem vorazes sobre as riquezas acumuladas quando de seu governo e nos posteriores. Mas, como canta Francisco, El Hombre, nesses versos: nada conterá a primavera, que se avizinha.

Nesse meio de tempo, claro que dariam um jeito de prender Lula. Um triplex na praia da Enseada seria atribuído a ele, no maior mico midiático-jurídico já visto, vez que o tempo se encarregou de revelar a inconsistência dessa história. Em Atibaia, pedalinhos com nome dos netos de Lula serviriam de prova de que ele era dono daquelas terras – mais um processo fajutérrimo de provas inconsistentes, o tempo revelaria. Prenderam-no em Curitiba, e jamais o país viu preso político ter acampamento ao redor da carceragem. Eu sairia com ódio e sede de vingança. Ele saiu com a tranquilidade de quem sabe que a Justiça, por vezes golpista quando entregue a seres abjetos que agora se apresentam como salvadores da pátria – após quebrarem toda a cadeia produtiva da indústria de infraestrutura do país – tarda, mas não falha. E um a um, os 21 processos que criaram para sua condenação foram derrotados. Lula está de volta ao páreo, vai ganhar ainda no primeiro turno e os 10 meses que começam agora serão de pura adrenalina. Não vão deixar ele em paz, é claro. Não sossegarão, como não sossegaram quando atiraram contra o ônibus da caravana que Lula percorria no Paraná. Mas ele vai vencer.

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Pra não dizer que não falei de corrupção, só peço: leiam “Almanaque 1964”, de Ana Maria Bahiana. Ano do golpe militar. Ano em que o Congresso investigava, numa CPI do Petróleo, os casos de corrupção na Petrobras. Não é tolerável a corrupção, só não deve ser atribuída a quem não deve. E não há que se falar em combate à corrupção quem acabou com a independência da Controladoria-Geral da União e todos os demais mecanismos para combatê-la: é pura hipocrisia, mais fácil de desenhar do que aquele slide de bolinhas de Deltan, só que com elementos reais, como a tentativa dele próprio (promotor de Justiça, que portanto não deveria fazer conluio com o juiz do caso, como se provou) criar uma instituição privada e abocanhar os bilhões de corrupção devolvidos aos cofres públicos. Esquema, aliás, montado pelo MDB, PP e, veja só, o PL que agora abriga e dá guarida ao genocida.

No país de rachadinhas e Queirós guardados em, ora ora, Atibaia, de orçamentos secretos e compras de parlamentares, de cobranças de um dólar de propina por unidade de vacina contra a covid, de 600 mil mortos por negligência, negacionismo e a crença irracional de que o coiso tem o dom messiânico de livrar a nação de males mil, chegamos a 2022 com a Bahia e o norte de Minas debaixo d’água, enquanto ele anda por sobre as águas, não como o Messias, mas com jetski que é bem público. Perdemos terras e mais terras do Pantanal e da Amazônia, que ardeu em chamas para fazer passar a boiada, perdemos a oportunidade de melhorar a nossa educação com a criminalização das atividades culturais, perdemos parentes e amigos que se revelaram pessoas escrotas e filhas da puta ao apoiarem tudo isso e, principalmente, ainda que se repita: perdemos mais de 619 mil vidas na cova larga da corrupção de um governo genocida. Infelizmente foi necessário que tudo isso ocorresse para que a maior parte da população agora olhe para Lula como merece ser olhado. Boa parte de nós lambemos o lodo do fundo seco do poço e sorvemos o amargor de viver num país cujo líder trabalha exclusivamente para evitar a prisão de seus filhos.

Pra não dizer que não falei de flores, nada conterá a primavera.

Seguiremos para Lula 2022 com sorriso no rosto, pois perdemos o incrível Paulo Gustavo que dizia que “rir é um ato de resistência”. Seguiremos com vontade de rever nossa cultura nesse patamar novamente:

Seguiremos chamando Anitta:

Seguiremos no show de Veveta, atrasada em três anos porém antes tarde que mais tarde ainda:

Sobreviveremos a esses anos mortais, que podemos chamar de década pela voz da Xuxa:

Se entramos nessa fria que foi termos um secretário feito Mario Frias nesses últimos tempos, saberemos agora em 22 que não estamos “Entrando Numa Fria Maior Ainda”.

Feliz Lula 2022.

foto: Ricardo Stuckert / Instituto Lula


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