Em ‘O Misterioso Desaparecimento de W’, ela mostra que uma atriz é uma atriz. Está em cartaz nesta sexta e sábado e, juro, está imperdível
Quando a gente vai escrever sobre alguém que admira muito, incorre no risco de passar o tom no puxasaquismo ou de ser duro pra não demonstrar o que o coração se encarregaria de escrever. Escolho a primeira alternativa, afinal aqui é escrita afetiva, mermã/o. Foda-se se ficar puxa-saco, o importante é que você, ao terminar de ler esse texto, sinta uma vontade tão quente pra ir ver a peça quando fica com vontade de trepar quando sobe o tesão. É sobre bem e tá tudo isso. E antes de mais nada…
Uma atriz é uma atriz
Não preciso ficar aqui falando duas horas sobre as qualidades de Adriana Nunes – que compõe a trupe d’Os Melhores do Mundo. Você sabe, e se não sabe, saiba que sua vida é um pouco menos legal do que a de quem sabe. Só que há um algo sobre atrizes cômicas que existe enormemente no meio teatral: a estereotipia. De modo que Zezé Macedo, que deu vida à Dona Bela na Escolinha do Professor Raimundo, morreu comediante sem conseguir realizar o sonho de fazer um papel dramático e mostrar que também daria conta de papeis densos. Vemos isso mudar aos poucos. Talita Carauta, por exemplo, surgiu no Zorra Total fazendo escada pra personagem da Valéria, e acaba de encarar Eliete, um papel incrível: uma professora de matemática no seriado Segunda Chamada. E, acostumados a ver Adriana Nunes fazendo graça, podemos desconhecer esse domínio pleno das emoções que ela tem.
E ela tem fodasticamente.
Em “O Misterioso Desaparecimento de W” ela vive “V”. Sim, fala-se “Vê”. Uma mulher que não, não te faz chorar e sofrer, que inclusive te faz rir várias vezes, mas que tem uma carga dramática bastante densa. E é um texto extenso, que aborda perdas e uma busca incansável por completude. Tanto que ela é “V”, mas busca “W”, ou seja, um algo ou alguém que a complete, que seja como ela. Família, amizade, guerra, amor, tudo está no monólogo, e as cruezas e crueldades do mundo habitado por ela estão todos ali – ainda que te fazendo dar risadas. Como quando ela diz:
Eu estava com Wolmer por seis anos e dois meses. Nós totalizamos 12.346 beijos e 854 coitos com uma média de orgasmos para ele de cem por cento, para mim de dezesseis por cento, uma média geral, segundo ele, de cinquenta e nove por cento, o que não é ruim”
O texto é de Stefano Benini, um dramaturgo e jornalista italiano com extensa produção, porém pouco conhecida no Brasil. A adaptação foi do próprio diretor, Cláudio Torres.
Acompanhei a estreia, e ao sair só conseguia dizer que “uma atriz é uma atriz”, porque monólogo é isso: é atriz/ator se derramando no palco sem qualquer outro suporte. Mas não posso deixar também de destacar a direção precisa de Cláudio Torres (roteirista de humor da Globo) e o primor da direção fotográfica de Nick Elmoor, que são os nomes que consegui capturar da ficha técnica.
Saí do teatro, na sexta passada, reflexivo, e por isso mesmo pleno e feliz. E desejo o mesmo para você, por isso, ouve o papai aqui: vá assistir.
Serviço
- Dias 19 e 20 de novembro, às 20h
- Espaço Multicultural Casa dos 4 (708 Norte – Bloco F – Loja 42).
- Ingressos: R$ 25 (meia-entrada).
- Ingresso solidário: R$ 40 mediante a doação de 1 kg de alimento não perecível.
- Não recomendado para menores de 14 anos.
- Informações: (61) 98215-0302 ou (61) 326302167.
foto: Divulgação
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