Nesta seleção musical exclusiva, conheça os lançamentos que falam sobre demarcação de terras indígenas, negacionismo na ciência, amores… São artistas brasileiros cantando em português, inglês, francês. Artistas que vivem no Canadá. Gente da MPB, MFB e do bom e velho roquenrrol.
Hoje eu resolvi fazer algo de diferente… Ao invés de fazer um texto pra cada artista, produzi logo uma playlist exclusiva para que você possa se atualizar com o que de melhor surgiu na música brasileira, nos últimos dias, caso cê esteja desinformadinho/a.
É um listaço, de fôlego, pra dar realmente um F5 e falar pra si mesmo: tô FODA na música agora. FO. DA. São 21 canções!
Claro, dá o play, vai ouvindo e lendo e voltando (vários dos vídeos não são clipes, são apenas a música ou lyric videos).
Playlist Daorinha (solta o play e deixa rolar):
Duane, Braga e Vini
Vou começar por esses caras, só porque insistem em dizer que são uma não-banda, assim como começarei a dizer que sou um não-jornalista (rs). Com um belo dum clipe que contempla o urbanismo carioca, “Dominante” é bem boa e cheia dos skates e dos All Star azuis e de outras cores, repare.
Falei do outro lançamento deles bem aqui, ó. São bons, eles. São bem bons!
Arthur Pares
Pude me transpor para dentro da música e lembrar que, em diversos momentos da minha carreira, me questionei se estava no caminho certo e se deveria continuar. E hoje, mesmo com algumas experiências um pouco tristes, entendo perfeitamente que todos os acontecimentos desta trajetória e decisões que tomei fizeram sentido, pois como diz o refrão da música, ‘não tem hora certa pra se encontrar’
Arthur Pares
“Sempre Vai Ser” é a faixa-título do EP de estreia deste jovem, que chega fazendo um belo exemplar da MFB – Música Fofígnea Brasileira.
Anjo dos Becos
Porque nem só de música bonitínea vive esta lista, aumenta que isso aqui é roquenrrol. Anjo dos Becos é consagrada banda no meio, que mistura ska com groove, ritmos latinos e circo e skate e grafite, enfim, uma lambança sonora delícia e elétrica.
Eles cabaram de lançar o disco “Overallrockdelic”, celebrando os 25 anos de estrada em 11 faixas.
As músicas retratam um pouco da trajetória da banda e da magia que acontece quando se envolvem com a filosofia ‘Funny Fluxo’ – todo mundo junto numa grande fusão, sem classe social, sem preconceito, sem racismo, só o que importa é a magia daquele momento único. O tempo passa, mas na noite ainda somos todos iguais em busca de festa e diversão”
Pirata Home’s, vocalista
MB
Sim, nesta lista temos não-bandas e temos também pessoas cujos nomes são siglas, e pra abrir, Marcos Bruno, vulgo MB. Bom, isso não é uma crítica, visto que escrevi em meu último livro um personagem chamado HB, só não podia deixar de registrar, rs.
Seja quem for, quando menos se espera, todo mundo acaba sendo convidado a se adequar a alguma ‘formula do sucesso’ para não ficar para trás. A música nos leva a refletir sobre o caminho que estamos seguindo e assim nos alerta sobre o quanto pode ser perigoso seguir a multidão. O ‘não se encaixar’, por ser subjetivo, nos leva a questionar se isso deveria nos deixa alegres ou tristes”
MB
MB é alagoano de Maceió. Traz em seus sons vivências como as andanças pelo bairro de Pinheiro, um dos que estão afundando por causa da mineração do sal. Na faixa “Sobrevivo na Cidade”, faz parceria com o rapper e violonista Diogo Rezende, o Ding.
Wayd
Agora uma sequência de artistas com nomes diferentões! rs. Wayd abre a trilogia. Carioca, 29 anos, compõe, canta, toca e faz algo meio folk, meio country, meio: ouve!
“This Game” foi lançada há poucos dias, como terceiro single do disco que lançará em outubro. Sim, ele canta em inglês. Acho chique quem consegue FALAR inglês, que dirá pensar em inglês pra compor e cantar…
Ao longo da minha vida tive algumas influências importantes no meu gosto musical, e a música internacional sempre foi muito forte. O estilo de música country sempre me atraiu, a intensidade das letras e das interpretações me encantaram e encantam até hoje. Muitos dos trabalhos que admiro são de músicos que conseguem tirar um som completo somente com a voz e o som de seus instrumentos pessoais, principalmente violões e guitarras e alcançar esse nível de expressão artística é o meu sonho”
Wayd
“This Game” é sobre relacionamento abusivo, mas não é a canção que consta na lista porque ainda não tá rolando no Youtube. Então, botei, pra você ir sentindo o gostinho, “Don’t Let It bring You Down”.
Seithy
Parece até nome inventado, artístico, etc, mas não: o curitibano, inclusive, fala sobre o fato de sua cultura estar sendo invisibilizada. Ele é latinoamericano descedente de asiáticos. Seithy é luthier e criou a própria guitarra. “Sem Nome” é o título da canção, que antecipa o álbum “Haikai Espiritado”.
Existo nesse salto, livre, caótico, saturado, conflituoso e humano. De som e de ser. Essa faixa é sobre o sufocar neo-colonial, não em meu nome, mas em nome de qualquer natureza não hegemônica, sobre artefatos, sobre as histórias caladas, aterradas, queimadas, sobre entrar num museu e se resumir num artefato exótico de autoria desconhecida, da cerâmica indiana do século II ao adorno kaingang de 2017”
Seithy
Yan!
No final do ano passado e início deste ano, conheci Yan! – assim, com ponto de exclamação no nome – e me tornei seu assessor de imprensa no lançamento do segundo e terceiro clipes. A real é que eu mesmo preciso dar um F5 sobre como fazer assessoria de artistas, porque meu jeito old school não tem a aderência que os novos tempos exigem.
E o Yan! é um cara genial: faz pop-rock com várias mesclas, e sempre mete reflexão em suas letras, pois é psicólogo e quer essa pegada em seu disco – que será o resultado da reunião de todas as canções. Em “Vendavais”, ele avança em direção a um local que ainda não tinha sido percorrido em sua produção audiovisual: o do artista que dança e se expressa cenicamente. Lindo! E tá aí um popzão que te bota pulguinhas atrás da orelha de quem tá no caminho do autoconhecimento…
Conheça os artistas dessa lista:
Viridiana
Artista gaúcha trans e não-binária, Viridiana reflete sobre a própria identidade de forma lírica na canção “menina” – com “m” minúsculo (sorry gente, eu implico com todas essas invenções, mas é implicância com amor). É a primeira canção do álbum “Transfusão”.
Acho que foi esse retorno a um passado da minha vida que fez surgir a frase ‘se eu tivesse nascido menina, o meu nome seria…’. Eu escolhi Viridiana por isso, era um nome que a minha mãe queria dar pra mim ‘se eu tivesse nascido menina’. Quando acabei, eu nunca achei que lançaria ela, me parecia uma canção inacabada, por ir tão direto ao ponto. Deletei o projeto e deixei passar. Quando a Bel_Medula e a Rita Zart (diretoras artísticas) entraram na jogada e pediram pra eu mostrar tudo que tinha composto em 2020, me lembrei dela e choramos juntas. Era a última música do disco, que dizia tudo que as outras camuflavam em metáforas. Aqui era direto ao ponto, direto ao coração”
Viridiana
Fabrízio Rubinstein
Esse talentoso cara transformou em música toda a apreensão e os receios despertados pelo pós-eleição de 2018. E para tornar a coisa mais classuda e se conectar com a música francesa, essa faixa é em francês. Até no título, claro: “Le Peur”. Em bom português: “O Medo”.
O Fabrízio é incrível e falei mais sobre ele bem aqui
Caetano Brasil
Acho que todo músico com esse nome tem a obrigação de honrá-lo. Aqui estamos diante não do Veloso, mas do que, pra deixar a coisa ainda mais dramática, tem o nome do país no sobrenome. Pois deu certo: o clarinetista, saxofonista e compositor mineiro Caetano Brasil foi indicado ao Grammy Latino. E acaba de lançar uma leitura própria de “Carinhoso”, do Pixinguinha, recriando a versão de Radamés Gnatali.
Fazer compreender a melodia e que todo mundo entendesse do que se tratava logo de cara era minha intenção, mas, ao mesmo tempo, colocar quem ouve pra pensar: ‘Carinhoso tá diferente…’. Cada vez mais venho assumindo uma estética que mistura minhas influências, que vão do impressionismo francês ao post-bop de Coltrane. Pra vocês verem: em alguns momentos desta música tocamos simultaneamente em tons diferentes – coisa que foi bem explorada na música moderna do século XX – e no final, criei especialmente para esta versão, uma sessão de improvisação em que nós quatro improvisamos juntos. Gravamos, como de costume com esta minha banda, todos tocando ao mesmo tempo, ouvindo uns aos outros e criando na hora. Adoro esta energia que esse ‘ao vivo’ proporciona”
Caetano Brasil
Cris Braun
Pecado conhecer só agora essa gigante da cena pop cult brasileira de timbre e tema próximos de Rita Lee. Impossível não lembrar do disco de Madonna, de 1992, quando lemos o nome do álbum que Cris está lançando agora: “Quase Erótica”. Uma verdadeira celebração da maturidade, da sexualidade e dos prazeres. É seu quinto solo, lançado aos 59 anos.
Senti um desejo de dançar, de falar para mais gente, de estar num palco pop rock me divertindo e alegrando corações neste disco. Quis sentir e passar vida, humor e pimenta! Refleti bastante sobre a falta de hormônios da menopausa, percebi uma nova forma de erotismo, libido e tesão. Daí o humor do ‘Quase Erótica’”
Cris Braun
Credo, que delícia, sério.
Rafa Martins
Coisa linda é “Sincero”, novo single do vocalista do Selvagens À Procura de Lei, Rafa Martins. O cearense propõe, com suas melodias suaves e letras leves, uma espécie de mergulho de autoconhecimento – e este é também o resultado da pandemia, já que teve de parar de tocar com a banda e o que restou foi… Olhar para si.
Depois de 10 anos entre gravação de disco, estrada e vivências por aí, a pandemia me fez entrar em uma pausa que foi na verdade muito necessária pra eu me reconectar comigo mesmo. ‘Sincero’ é uma auto-análise sobre quem eu sou, quem eu fui e como eu me vejo daqui pra frente”
Rafa Martins
Jazz Botânico
O duo Jazz Botânico, formado pelo DJ MAM e o cantor, compositor e instrumentista Rodrigo Sha, lançou o single “Demarcação Jazz” – com as vozes de Elza Soares e Ney Matogrosso + trecho sonoro dos índios Xavante, da Amazônia. É uma recriação da música “Demarcação Já”, de Chico César e Carlos Rennó, para a campanha do Greenpeace e do Instituto Socioambiental. E repare na imagem dessa canção: foi criada pelo Ziraldo. Lindeza e coisa mais que necessária, hã?
Kaê Guajajara
Por favor, ouça este disco. O vídeo dela nesta playlist que fiz é, apenas, o disco inteiro, de nome “Kwarahy Tazyr”. Kaê Guajajara é multiartista e amplifica as vozes dos povos originários com provocações e questionamentos de uma visão dominada pelo homem branco.
Kaê é dona de uma rica vivência, pois nasceu em Mirinzal (MA) e se mudou para o complexo da Maré (RJ) ainda criança. Teve a vida marcada por preconceitos e racismo.
Tecendo a minha própria história a partir do ponto de vista originário, me encontro com o Sol, que tanto me ensina em suas diversas formas, fogo, fumaça, ar, fazendo com que cada dia que se passa, eu tenha menos medo de me posicionar contra narrativas que apagam pessoas indígenas em diversos contextos”
Kaê
Lucas Vidal
Ele acaba de lançar um disco experimentalzão chamado “Renata”. Não, não é releitura de Latino, não é aquela que “trocou o meu amor por um real de pão”. Neste disco visual no Youtube, ele toma um banho e se troca enquanto passeia por todas as faixas, convidando-nos a ouvir com o fone de ouvido, porque explora a sensorialidade do som estéreo, que ora é ouvido só num ouvido, ora noutro, e é beeem legal essa viagem.
O álbum transita entre os conceitos de arte sonora e música, a partir de elementos metalinguísticos, redimensionados por certa ironia. As faixas são exercícios conceituais ritmados estimulados por vestígios de conversas e não-conversas, passadas e futuras; vestígios do que se vê, fala, escuta, pensa e do que pode ser coletado e rearranjado para deslocar o ouvinte a relações particulares/privadas que se amontoam entre o virtual e o real”
Lucas Vidal
Phillipe Meyohas
Pra continuar a onda experimentalista, ouça outro fluminense, o Philippe Meyohas. O vídeo é também o álbum completo do artista, “Em Claustro, Em Tormenta”, sendo que são apenas três faixas, durando, em média 9 minutos cada. Esse é intrumentalzão, e fica mais legal de se ouvir quando se conhece o contexto: ele pretende transportar o ouvinte a uma experiência sonora de contemplação estética e angústia psicológica.
É vagamente baseado no que presenciei e vivenciei durante os últimos dias da minha mãe, e procura representar, em forma de música, o desenrolar do horror e da desgraça que foi seu derradeiro episódio psicótico. Em última instância, busca sensibilizar aqueles que não dimensionam as penas passadas pelas vítimas da esquizofrenia”
Philippe Meyohas
Jotadablio
Não disse que tinha mais artista com nome que é sigla? Pois tá aqui. “Livro na Estante” é faixa de estreia de Jotadablio, com uma mescla de indie suburbano carioca e alt country americano. Jotadablio é o compositor e jornalista Jorge Wagner, que há quase 20 anos milita na cena independente nacional. Foi ele quem organizou “Jeito Felindie”, em 2012, uma coletânea de releituras de Raça Negra que fez um suceçasso na internet, com artistas como Letrux e Lucas Vasconcellos (que formavam o duo Letuce), Harmada, Transmissor e The Baggios.
Alysson Salvador
O negacionismo da ciência e a polarização do debate político foram as inspirações para que Alysson Salvador criasse “Fora do Eixo”. A proposta do artista é criar uma sensação de estar andando numa corda bamba, por meio das melodias e sons. Sonzaço!
Savio
Voltemos à leveza da MFB, com Savio. O artista está lançando uma sequência de canções sobre amores urbanos. “Fala” é sobre isso (e tá tudo bem, rs).
Figurando como um devaneio, ‘Fala’ foi a composição que me deu vontade de produzir um álbum. Não apenas pela letra, mas também por toda a harmonia e instrumentação orgânica. Partindo talvez de um indie rock, passando pelo caminho do soul e chegando na nova MPB, procurei seguir minha identidade harmonizando novos elementos e cultivando minhas referências”
Savio
Ana Luiza Ramos
Dona de um timbre limpo e bonito, com temas fofos como se pode esperar da canção que coloquei na lista, “Céu Azul”, Ana Luiza Ramos é uma cantora brasileira que atualmente vive no Canadá. E que acaba de lançar seu disco completo.
‘Amanheceu’ é meu segundo álbum solo e o primeiro com parte das canções sendo autorais, o que é um marco na minha carreira. Tem sido uma alegria me descobrir como compositora nos últimos anos e o ‘Amanheceu’ é o início dessa nova jornada. É um álbum sobre relacionamentos, sobre a natureza e a nossa conexão com o mundo”
Ana Luísa
Giancarllo
Já falei sobre este cara por aqui, duas vezes, e não pretendo parar de falar porque tá bem legal tudo o que ele anda fazendo, viu? Agora o paulistano lançou “Judá Força Leão”. Ao contrário das outras canções que figuraram aqui, que eram de black music, esta é um reggae.
Dessa vez vou fugir um pouco do som groovado. O disco é repleto de sons variados, mas com o pé num som mais retrô. Essa, apesar do vocal ser bem cravado no estilo trap, o instrumental é um reggae clássico bem raiz, acompanhado por uns beat Hip Hop retão. O refrão tem a participação do meu irmãozasso e produtor Kiko Perrone e a letra é uma reflexão sobre a política no Brasil, sobre quem está no poder, seja em que época for. É sempre o discurso de “Deus isso” “Deus aquilo”, mas nada de arregaçar as mangas. A música, porém, tem um contraste com a fé, que não pode falhar. Nesse som, eu cito Michael Jackson e sua lendária frase “They don`t care about us” no Pelourinho”
Giancarllo
Caso você não tenha familiaridade com a Bíblia, esse título do Giancarllo cria esse contraponto de que ele disse com base no conceito bíblico do “Leão de Judá”, que é uma metáfora para a força de Cristo, por ser o rei da família, que era da tribo israelita de Judá.
Antes dessa, falei sobre “Swing Negada” e também sobre “Soltinha”.
foto do topo: Rafa Martins. crédito: Dario Matos / divulgação
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