Luiz Gustavo, conhecido no meio artístico por Tatá, fez inúmeros papeis representativos, a exemplo de Beto Rockefeller. Mas quem tem entre 33 e 45 anos o teve como pai, quando viveu Paulo em “Confissões de Adolescente”.
A essa altura você já deve ter lido 800 homenagens ao Tatá, o genial Luiz Gustavo que nos deixou neste domingo (19), após três anos de luta contra um câncer de intestino. Nada mais é preciso ser dito sobre a genialidade deste monstro sagrado da atuação. Mas precisamos, ainda, falar sobre quem agora se sente órfão dele…
O diretor Daniel Filho escreveu hoje, em seu Instagram, resumidamente:
Devo I Confissões de Adolescentes e Sai de baixo. Alto Astral, Ator inteligente, melhor Amigo
E o fez com essa foto linda, tão sintética sobre esse cara e sua personalidade que emanava apenas simpatia e luz.
Confissões
A atriz e escritora Maria Mariana tinha 19 anos quando estreou no teatro Clara Alvim, em Ipanema, a peça “Confissões de Adolescente”. Filha de Domingos Oliveira, ela chamou para a peça, composta por esquetes, as amigas Patrícia Perrone (que também assina o texto e que hoje é jurista e assessora do ministro Luiz Roberto Barroso), Ingrid Guimarães e Carol Machado. Daniel Filho assistiu à estreia, se emocionou e comprou os direitos da peça para transformá-la em série de TV. E, em 1994, o fenômeno que foi este seriado entrava em nossos lares com a força arrebatadora de um texto poderoso e imune à caretice, um elenco de peso – agora Maria Mariana, Georgiana Góes, Daniele Valente e Déborah Secco eram as protagonistas – e com a maestria de Luiz Gustavo vivendo o pai solteiro que criava as quatro filhas.
Já na abertura dava pra ter noção de que estávamos diante de um clássico, né? A série foi filmada em película e, num momento em que inexistia a ideia de produção independente – pelo menos nesses moldes – no país, lá estavam Daniel Filho, Euclydes Marinho e Zelito Viana formando a produtora DEZ e entregando uma obra prima e definitiva. Consegue resistir ao Gil cantando “Sina”?
Há quase 10 anos, conversei com Maria Mariana, e foi uma prosa beem delícia, ouve só:
Mas o assunto é o Tatá.
Já fiz um texto aqui, questionando: será que 2345Meia78, do Gabriel, o Pensador, foi inspirado em uma cena incrível protagonizada por Luiz Gustavo em Confissões? Olha a maestria da dancinha:
Num dos vídeos sobre bastidores da série, Euclydes Marinho fala sobre a escolha de Tatá para viver o pai das meninas. E diz algo como “precisávamos de alguém muito afetuoso, e o Tatá é isso”. Na última conversa sobre o seriado, promovida numa live pelo Splash (do portal Uol), o ator disse que amava trabalhar com Daniel Filho por ser extremamente preguiçoso e que o diretor, simplesmente, mandava, ele obedecia, e dava tudo certo. Só que, como ator iniciante que sou, posso garantir que essa é uma qualidade nobrérrima que um bom ator pode ter, a de confiar cegamente em seu diretor, deixar-se guiar por ele, apesar de todo o material que o próprio Luiz tinha dentro dele.
Deborah Secco, relevada por Confissões, respondeu a Daniel Filho: “Obrigada por ter me dado esse Papai de presente… eternamente no meu ❤️”. Deve ter sido mesmo incrível ser elas, mas Tatá virou pai de toda uma geração que era adolescente nos anos 90. No meu caso, estava beirando a adolescência (tinha 10 anos), gravava em VHS o episódio pra minha tia, que era uma, digamos, pós-adolescente, e essa fita durou aaaanos (toda a minha adolescência e a de meus irmãos mais novos), a ponto de, ainda hoje, em 2021, eu saber falar sequências inteiras da série, de cór. E de não ter esquecido que precisamos dela como presidenta do Brasil, conforme prometido:
Georgiana Góes, que viveu a icônica Bárbara (certamente minha personagem favorita da série pelo despojamento de seu cabelinho raspado e personalidade explosiva), também escreveu: “Só tenho a agradecer a oportunidade de troca com ele que você me proporcionou”. Curiosamente, Georgiana foi escolhida Bárbara após a desistência de Patrícia Perrone, a co-autora da peça e da série. E após passar num teste em que disputava o papel com Ana Kutner, a filha de Paulo José, que nos deixou também há pouco tempo. “Grata por ter podido estar com ele no seu Confissões!”, comentou a atriz no perfil de Daniel, que respondeu: “Mês fdp. Teu pai, Tarcísio e Tatá. Amigos de sempre. todos fora da curva”. Ana não viveu Bárbara, mas deu vida à Isabela, num dos episódios mais polêmicos da série: ela se apaixona pelo namorado da melhor amiga – Diana, a protagonistona, vivida por Maria Mariana.
Depois de Paulo, Tatá viveu o maravilhoso Vavá, em Sai de Baixo (1996, na Globo). Ele era o chefe da família trambiqueira que experienciava a crise financeira típica da classe média dos anos 90 no Brasil. Mas nós, geração dos adolescentes daquela década, vamos sentir falta mesmo é do Paulo… Bom, pra não encerrar esse texto com a tristeza que não parecia caber no rosto sorridente do ator, que tal um episodiozinho, hein? Aliás, Daniel Filho, fica a dica: bora negociar com os streamings essa série? Estamos precisando…
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