Quando as coisas começam a voltar aos seus devidos lugares, podemos saber que é porque o universo está se encarregando de colocar o lixo da História na lata do lixo.
Eu vou ignorar o fato de o Marcos Mion ter ido se encontrar com o coiso. A causa, naquele caso, valia o sacrifício de lidar com o seborréico palaciano e espero que Mion já tenha se livrado da gosma que o crápula solta de sua derme. Este, aliás, precisa ser um texto totalmente fora dos padrões jornalísticos (não que eu os siga muito por aqui) para fazer algum sentido, e essa passação de pano logo de cara tem como finalidade fazer com que os próximos parágrafos sejam puro suco de afeto, sem qualquer interferência.
E antes de qualquer historinha, compilei neste vídeo alguns dos stories da cobertura da chegada do Mion ao Multishow / Estúdios Globo nesta quinta-feira (12), pois são stories que não merecem morrer:
Senta que lá vem história…
O Brasil é de uma enormidade sem fim e eu morava, 21 anos atrás, num pontinho do país cuja grande importância para o macro está no fato de ser terra natal de Wagner Tiso, Rogério Flausino e seus irmãos e de ter a maior fazenda de café do mundo. É a cidade de Alfenas, no sul mineiro, e a vida era bem boa por lá. Mas um portal que expandiu mentes e consciências se abriu diante de todos os jovens que, naquele tempo, conseguiram acesso à novidade do ano: a televisão por assinatura, que chegava por lá. Embora as coisas fossem bem difíceis de grana lá em casa, naquele ano uma folga financeira nos permitiu ter o pacote básico da Directv. E só um canal interessava: a MTV Brasil.
Naquele momento a emissora estava endinheirada. Tinha um elenco grandiosinho, grandes faixas de programação ao vivo, realizava os Acústicos MTV do Capital Inicial e do Lulu Santos com imenso êxito e proporcionava a toda uma juventude o acesso a cultura geral e conhecimento de um jeito que só a turma do Zico Góes sabia fazer. Soninha comandava o Barraco MTV (e nunca mais a televisão experimentou qualidade maior em temas e fontes de debates). Adriane Galisteu, o Quiz MTV. Fernanda Lima, o Fica Comigo – um “Quer Namorar Comigo” com MTV Energy. Luana Piovani, o Tudo de Bom MTV – direto de Nova York e com trilha de abertura do Mundo Livre S.A. Thunder revirava os arquivos da emissora num programa que preparava a festa dos 10 anos. Cazé comandava um talent show, o “VJ Por Um Dia”. Havia espaço para a criação do primeiro reality show da tv brasileira, o “20 e Poucos Anos”, e Ludmila comandava o Erótica MTV – a primeira produção televisiva brasileira a falar abertamente e sem pudor sobre sexo. Tinha ainda: Marina Person e Edgar apresentando o Contato, Fábio Massari dando aula no Mondo Massari, Kid Vinil no Lado B e KL Jay no Yo! MTV, só com o melhor do rap.
Havia uma programação matutina dedicada aos clipes, um programão de insights da programação ao meio-dia com a incrível Chris Nicklas – que exibia trechos de entrevistas e clipes, o Central MTV. E o carro-chefe, desde sempre, sob o comando de Sabrina Parlatore, o Disk MTV seguido do Resposta MTV – uma espécie de desdobramento do Disk (que era a parada diária de sucessos) para permitir interatividade. Em seu lugar, naquele ano, entraram Sarah Oliveira no Disk e Silvinha Faro, no Resposta.
Mas a coqueluche do ano 2000 na MTV era a dupla de VJs que tinha entrado na emissora no final de 1999: Didi Wagner e Marcos Mion.
A Didi chegou a gravar uns episódios do MTV Al Dente – um programa sensuellen sobre clipes picantes que passava de madrugada. O Mion tinha feito um judeu na primeira temporada do seriado Sandy e Junior, na Globo. Um papel de pouco destaque pra um menino bem brilhante.
Quase que deu bosta o fato de o Mion chegar na MTV com um bordão bobo feito “shabley”. Para noossa alegria, ele parou com isso bem cedo.
Em 1999, a MTV decidiu apostar num programa ao vivo com quatro faixas diárias e temáticas, o Supernova 1, 2, 3 e 4. Seriam sobre rock, pop, MPB… Só que, em 2000, a emissora deu um duplo twist carpado nessa ideia e transformou o Supernova no programa ao vivo da faixa da tarde, com Marcos Mion e Didi no comando, das 14h às 18h. E não havia NADA de melhor para se fazer à tarde do que assistir aos dois. Eram tipo nossos irmãos um pouco mais velhos – eu tinha 15 pra 16 anos, eles tinham seus 19, 20, apenas.
Piores Clipes do Mundo
Esse programa já existia na grade e era apresentado pela Marina Person, mas o objetivo era o da old MTV: chamar clipes num cenário em chroma key – coisa que naquele ano 2000 virou exceção na emissora. Daí o Marcos Mion pegou o programa pra si e deu sua cara, e aí a coisa deslanchou. Ele passou a apresentar clipes cavucados lá no interior do interior do acervo de fitas, e isso ressuscitou Supla, que vivia na Europa e já estava fazia tempo no ostracismo. O sucesso foi tanto que Supla, no ano seguinte, participou do elenco da Casa dos Artistas do SBT.
Mion também descobriu o nome daquele corte de cabelo que, àquela altura, já era o cúmulo da breguice: mullets. E assim o país conheceu este nome.
Vai e volta
O talento dos VJs da MTV sempre os colocou na mira das emissoras abertas. Sabrina àquela altura estava na Band com Otaviano Costa (outro ex-VJ) apresentando o SuperPositivo (herdeiro do H, o programa que Luciano Huck deixou pra trás ao ser contratado pela Globo). Não demorou muito e, em 2002, Mion foi pra Band. O programa foi legal, mas TV aberta precisa de audiência grande, né? Também não demorou muito pro Mion voltar pra MTV. E sair pela segunda vez, agora pro Legendários na Record.
Didi
Já a Didi seguiu na MTV até 2006 em inúmeros projetos, sempre esbanjando simpatia e talento. E desde 2006 está no canal que queria ser a MTV, mas não conseguia: o Multishow. É, demorou pro Multishow emplacar como canal de música, de jovens, etc. Mas depois que emplacou… Edgard teve programa lá, aí foram se achegando os VJs que entraram depois na MTV, como o Didi Effe, a Titi Muller e a Luísa Micheleti, e com o fim da MTV, assumiu com maestria esse posto.
Claro que o Multishow é um canal bem mais mainstream que a MTV. Até rolava de entrar um clipe do É o Tchan e outro na MTV, mas sertanejo jamais. Coisa que é puro suco de TVZ… Havia um interesse muito maior na MTV pela livre expressão do jovem e a curadoria de conteúdos que fossem capazes de produzir uma geração mais crítica, por isso o mainstreamzão era tão rejeitado lá, e este não é o paradigma do Multishow. Ademais, era uma emissora aberta, o que conferia a ela o status de ter relevância e repercussão, enquanto que o Multishow vive uma lógica diferente, a de canal de programadora, cheio de co-produções. Mas quando junta os ex-VJs na tela pra transmitir um Lolapalooza e um Rock in Rio da vida, aquela MTV Energy dá um calorzinho no coração.
Só faltava, portanto, o Mion
Eu acho que prefiro continuar sonhando que o Marcos Mion é um cara sensacional, caso ele não seja. Por isso, por favor, se ele não for, não me tragam estes bastidores.
Desde que saiu da RecordTV, a imensa expectativa de todos nós era o Mion no No Limite. Não colocaram, deu no que deu. Daí, semana passada, veio o anúncio de que ele estaria na Globo. E, nesta quinta (12), TAMBÉM no Multishow. E ainda foi recebido pela Didi, com tapete vermelho e tudo.
HÁ ESPERANÇA
HÁ
Nesse mar de lama que o Brasil se enfiou onde todos parecemos estar sobrevivendo às custas de um canudinho que nos permite respirar pela boca, pois a outra ponta está acima do nível da lama, ver as coisas voltando aos seus devidos lugares é como ver chegando o verão: UM CALOR NO CORAÇÃO. Tipo: só falta a Xuxa voltar pra Globo e colocarmos um presidente no Planalto que não seja um genocida e nos permita vivermos em PAZ.
De resto, o que quer que o Mion faça, será incrível. Agora, se eu pudesse pedir algo para a Tatiana Costa, que é a diretora do Multishow, essa coisa seria: me contrata (risos) e POR FAVOR permita-nos o gostinho de reviver o Supernova, tacando o Mion e a Didi pra apresentarem um programa ao vivo, nem que seja um dia? Um TVZzinho só? Hein?
arte do topo: montagem / fotos Divulgação
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