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Resumo do disco: Trava Línguas, de Linn da Quebrada – lançado hoje, ouça!

Entrou no ar à meia noite desta sexta, 16 de julho, uma lindeza que começa por “amor amor”, cujo primeiro verso é “deu meia noite / era quase meio dia”. Este texto está indo ao ar às 01h25 e foi escrito no calor da primeira audição

Linn da Quebrada é ímpar e necessária à música brasileira. Tá na pista pelo menos desde 2016, quando explodiu com canções como Talento e Bixa Preta. Foi naquele mesmo ano que Liniker estourou. As duas estudaram na mesma escola em Santo André.

Pois o disco que acaba de entrar no ar tá inebriante. TÁ FODA! Ainda escrevo sob os impactos das primeiras impressões, de quem tacou os sons do terreiro em perspectivas contemporâneas nas duas primeiras faixas, “amor amor” e “dispara”. Já em “cobra rasteira”, a terceira, entra um quê de som eletrônico. Descamba pra uma MPB delícia em “medrosa – ode à Stella do Patrocínio” – mulher preta e poeta carioca que, aos 21 anos, sem qualquer explicação, foi levada à internação psiquiátrica e lá permaneceu até sua morte. Virou símbolo da luta antimanicomial e objeto do documentário do amigo Marcio de Andrade, “Stella do Patrocínio – A mulher que falava coisas”.

*Errei: a terceira faixa é I míssil, mas não tem clipe para ela, só o áudio. É ela que transita os sons dos batuques das primeiras faixas para a pegada eletrônica de “cobra rasteira”. “I míssil” faz um trocadilho com “I miss you”.

Assista e ouça (é só deixar as faixas rolarem):

“onde” é a sexta faixa, e a sétima é “pense & dance”, e não, não é a homônima do Barão Vermelho. É praticamente uma peça de teatro, jogando com as palavras de uma travesti: “eu não sei mais se eu corto, mas também não sei se eu pinto. Eu corto ou pinto? Dói” – e “corto ou pinto”, dito rápido, fica “eu corto o pinto”. Sarcasmo com quem ainda, em pleno 2021, acredita que para ser transexual é necessário fazer a cirurgia de redesignação sexual. Versos como “credo que delícia, como é bom ser travesti” e “minha voz é assim? que voz de doido / doido não: doida!” debocham ainda mais desses dilemas que estão nas cabeças mais conservadoras.

A oitava faixa é “mate & morra” e começa com um trocadilho que a Pabllo fez em “Amor de Que”: o do “eu sento, tu sente”. Depois descamba pro escracho absoluto, a putaria real, “mó tesão da porra”, e é do caralho!! Na nona música, “eu matei o Júnior”, um feat com Ventura Profana, outro jogaço de palavras e uma pegada hardcore eletrônica e hip hop.

Numa quebra inesperada vem a penúltima faixa, “tudo”, lentinha, calminha, MPBjazzada. Mas o jogo de palavras segue ótimo e termina com “meu corpo no seu, seu corpo no mel, meu corpo no céu, seu corpo nu… meu corpo nu… lou… cu”. E tem uns trompetinhos nessa faixa que dão uma coisa tesuda e sexy, e o timbre da Linn se encorpa feito Vanusa. Delícia. Pra encerrar, “quem soul eu”. Tem uma pegada que parece voltar às primeiras canções da Linn: começa como rap, depois trafega para os sons de hoje em dia, em que é impossível encaixotar em gênero/estilo musical (o que é bem bom, vamos combinar). Os clipes estão primorosos, mas este em especial: ela faz uma performance, na qual transforma suas mãos em candelabros e as velas estão acesas dando continuidade aos seus dedos. Enquanto vemos as imagens, a canção está em “eu quebrei a costela de Adão”, o que dá um climão de NUUH.

Em tom confessional, ela canta: muito prazer, eu sou a nova Eva. Filha das travas, obra das trevas. Não comi do fruto do que é bom e do que é mal, mas dichavei as suas folhas e fumei sua erva. Eu quebrei a costela de Adão.

Sério. Que experiência. Foda, 100% foda. Um puta trava línguas sobre travas e línguas.

Foto: Divulgação/T4F


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