Desde, sei lá, 1960, decretam que o rock morreu. Tá, ele vive morrendo. Só que reaparece, se reinventa, se transforma, agrega elementos, cria jeitos diferentes. E neste 13 de julho, está decretado: aumenta que isso é roque enrow!
Bom, em primeiro lugar, um pouco de História não faz mal a ninguém e se tem uma coisa bem irritante nos tempos atuais, essa coisa é a tentativa de grupos políticos de sequestrarem a História e seus fatos para criar uma narrativa bizarra. Dito isto, vamos primeiro entender o motivo pelo qual se celebra o rock’n roll em 13 de julho: foi quando, em 1985, em Londres e na Filadélfia, ocorreram os concertos do Live Aid, megaevento com os maiores astros do rock e do pop do mundo naquele momento, que tocaram para angariar fundos que dessem conta de resolver a grave carestia que a Etiópia enfrentava naquele momento. Uma carestia que provocava centenas de milhares de mortes por fome, e que chocou o mundo a partir de um documentário da BBC de Londres.
Daí vem o motivo da pistolice do início deste texto: peguei um artigo que falava “como o socialismo matou milhares de fome na Etiópia” (não vou linkar porque não há palco disponível para cretinice por aqui). O que é bizarro porque o artigo considera que, por ser o país, naquele momento, uma república que se declarava socialista formalmente, então o socialismo foi o responsável pelas mortes.
Ignora o artigo, no entanto, que a Etiópia estava em plena ebulição social. Que resultaria, anos adiante, na divisão do país e criação da Eritreia. Que o que drenava o dinheiro da Etiópia era a Guerra Civil, que tinha movimentos rebeldes patrocinados pelos Estados Unidos contra o governo, por sua vez, patrocinado pela União Soviética. Que o país, ao final de seu período imperial, atravessara uma carestia horrorosa e mal resolvida (final dos anos 70), aliada a uma seca impressionante. Que poucos dados eram capazes de antever uma falta de alimentos tão severa pela Comissão de Ajuda e Reabilitação Etíope. Que duas carestias existiam no país, em duas regiões, desde o início da década de 80, com causas políticas. Enfim: tão simplório dizer que o socialismo matou os etíopes quanto chamar o Partido Nazista de PT da Alemanha por causa do significado de sua nomenclatura. Simplório não: isso é má fé mesmo.

E lembrar que o problema tá rolando também do nosso lado!
Live Aid
Bob Geldof era um cantor irlandês que assistiu ao documentário da BBC sobre a Etiópia, como milhões de pessoas. Estava meio que no ostracismo. Ligou, então, para Midge Ure, e juntos escreveram a canção “Do they know its christmas?” (“Eles sabem que é Natal?”). Essa era uma tradição da indústria fonográfica, a de lançar discos e canções de Natal. Era dezembro de 1984, e a música ficou no topo das paradas do Reino Unido por seis semanas.
Aquilo deu o start para o Live Aid. Semanas após, se uniu ao Boy George (que tava estouradaço com sua banda, Culture Club), e o empresário Bill Graham. Os grandalhões foram aparecendo. Queen, Madonna, o Led Zepellin – que estava há cinco anos sem se apresentar por causa da morte de seu baterista, e teve Phill Collins à bateria no show da Filadélfia (sendo que Phill tocara, horas antes, em Londres, entrou num Concorde supersônico e chegou aos States a tempo do show do Led). Todo mundo, enfim.
Porque o rock é engajamento. É bem verdade que o rock, quando envereda pro lado escroto, é capaz de gerar ídolos cuzões que só nos decepcionam, como o engraçadinho dos anos 80 que agora toca em talk show, e o ex-guitarrista de banda brasiliense que assumiu os vocais depois que o vocalista virou evangélico. Mas, quando o rock acerta, é sempre gol de placa. Da construção do Live Aid surgiu outra iniciativa, a USA For Africa, que uniu artistas para gravarem “We Are The World”. E não poderia haver dia melhor pra ser convertido em Dia Mundial do Rock do que aquele em que se realizou o Live Aid.
O rock tá vivíssimo, conheça 10 canções que comprovam isso
Agora veja/ouça (em seu escutador de áudio favorito) uma lista com 10 rocks atuais que comprovam o tanto que, em se tratando de vida, há muito mafufo ainda a se queimar pra que se decrete a morte do roquenrol…
Queen em Lego
A imagem que ilustra esse texto é a reprodução de uma criação de Mincher Lee. A Lego tem um projeto, a Lego Ideas, que permite que fãs do brinquedo sugiram novidades como esta. Portanto, existe um Lego reproduzindo o Queen no Live Aid – a apresentação da banda de Freddy Mercury durou 20 minutos mas é considerada um dos maiores shows de rock já feitos por eles. Só que existe apenas este, fotografado. Se você quiser que um dia a Lego passe a comercializar, tem que votar. O endereço é este aqui.
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