Izabella Rocha faz jazz cigano e som empoderado em disco que é coisa… Bella!

Brasília tem duas cantoronas reveladas por bandas de reggae nos anos 90, quando backing vocals: Joana Duah no Maskavo e Izabella Rocha no Natiruts. E Izabella tá mais que on, tá Bella, em seu novo trabalho – que é belíssimo, por sinal

Primeiramente, a memória à banda que a revelou tem como objetivo apenas fazer com que você, caso não associe a pessoa sobre quem estou falando às suas próprias lembranças, tenha instrumento pra isso. Porque quando, em 1999, o Nativus (depois Natiruts) surgiu com ela mandando solfejos e improvisos após o refrão “Liberdade pra dentro da cabeça”, e segundas vozes em “Beija-flor que trouxe o meu amor voou e foi embora”, era presença marcante nos clipes, apresentações na tv e shows televisionados. Desde 2005, no entanto, ela está em outros projetos. É…

Talvez seja chato ter de ler um texto que comece com idas a passados já longínquos. Perdão, Izabella. É que foi mais forte que eu, quando vi que seu convidado em “Carta Pra Ele” é o Kiko Peres – guitarrista do Natiruts. Já parei, tá? O assunto é o seu jazz de agora, e se mudei o tom do texto para algo que se pareça com uma carta não foi sem querer: é que é genial escrever cartas. Musicar cartas, mais ainda. E foi o que você fez, dentro de um processo teatral, explorando o texto de um clássico como Casa de Boneca, de Henrik Ibsen, o norueguês que é chamado de pai do teatro realista moderno.

Até porque teve bastante coisa e bastante chão, de lá pra cá. Quando ela e Bruno Dourado deixaram o Natiruts pra se casar e tiveram a filha Gabriela, montaram logo na sequência a banda In Natura (com, olha só, o Kiko Peres), em que pôde explorar suas possibilidades vocais de maneira mais explícita e lançar três discos. E, em 2016, começou a carreira solo. Nesse meio de tempo, teve DVD com direção de José Eduardo Belmonte e música feita para curta-metragem de Catarina Accioli. Ou seja, teve música pra caramba, e música que surge do encontro com outras artes…

Música que surge do teatro

Faz um tempo, já, que Izabella percorre o teatro brasiliense e seus diretores. Em 2014, estava no grupo do diretor Alexandre Ribondi quando apresentou, na 2ª edição da Bienal Brasil do Livro e Leitura (na Esplanada dos Ministérios, em Brasília – saudades, democracia), a leitura dramática de Liberdade, Liberdade (de autoria de Millôr Fernandes e Flávio Rangel). Naquele momento, fez o fio condutor musical do grupo, já que trata-se de uma peça bastante cantada.

Mais recentemente entrou para a trupe de Luciana Martuchelli, que trabalha a antropologia teatral e o teatro físico em multi-linguagens. Dessa parceria, surge essa lindeza de trabalho: um mini documentário sobre a faixa do seu novo disco, “Bella”, chamada “Casa de Boneca – Carta Pra Ele”. No qual percorre todo o processo de criação de sua canção, que passou pela gênese da personagem que interpretaria na peça de Ibsen dirigida por Martuchelli, à musicalização de tudo, em parceria com Kiko Peres.

:: Luciana Martuchelli estreou “Alice Underline” recentemente! ::

Izabella já é um nomão da música popular brasiliense. Daí ela me resolve ficar um nojo: “Carta Pra Ele” deveria ser um gypsy jazz. Que é apenas um dos gêneros musicais mais delicados e cheios de nuanças, o tal do “jazz cigano”. Pra contrastar com uma mensagem empoderada, forte e feminista, a da carta que Nora (sua personagem de Ibsen) escrevera para o marido dizendo que estava saindo daquele lugar de “boneca”, papel imposto pela sociedade do final do século 19 (ainda tão presente no Brasil do século 21, infelizmente). Se já te apetece saber dessas coisas, então assista ao mini-doc bem aqui. Fica mais saboroso ainda:

Ah, ó: aproveita o embalo dessa delícia de minidoc e curte essa entrevista que minha irmã Karina Cardoso fez com ela, antes de a censura comer solta e acabarem com o maravilhoso programa Antenize, que ela apresentava? Porque que ótimo é ver essas duas proseando, sério…


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