Artistas de Brasília: Paulino Aversa é cotidiano e rock’n roll

Nesta série de reportagens que escrevi para a revista GPS|Lifetime, o artista que nasceu com Brasília e a formação em arte às escondidas…

“Senta que vai demorar”. É o título de uma obra de Paulino Aversa que corresponde à expectativa de quem já usou o transporte público em Brasília: há uma parada de ônibus no formato clássico, de alvenaria, com um banco de concreto, os azulejos retangulares como os do metrô de Londres, uma espécie de janela. E uma pessoa à espera do coletivo. É cena comum, dessas que basta parar um dia no Eixão e observar os pontos de ônibus. Mas que, pelo olhar de Paulino, transformam-se em arte.

Ele nasceu no mesmo ano que Brasília, 1960. Cresceu por entre os canteiros de obras e esqueletos de monumentos de Niemeyer: o pai era engenheiro da Novacap. “Eu gostava muito de desenhar, desde pequeno, o tempo todo. Eu acompanhava meu pai nas visitas às obras e ele queria que eu seguisse na carreira de engenheiro. Acabei o convencendo a fazer arquitetura, porque, como tinha muito desenho e eu não gostava de engenharia… Fiz, mais ou menos, até a metade, e na UnB o curso era parecido, no começo, com o de artes. Troquei e não falei para ninguém. Quando eu me formei que eu avisei, e aí já estava feito o estrago”, conta, aos risos. Achou essa história meio rock’n roll? Pois é, o Paulino tem mesmo essa pegada. Na vida e na arte.

“Eu fui muito influenciado por um pintor norte-americano, o Edward Hopper. Ele pintava muito o espaço, e Brasília nos anos 80 era diferente de hoje, era muito vazia. Naquela época ninguém dava muita importância e eu já achava legal. Aí entrou na moda. Hoje em dia eu pinto Brasília de uma forma diferente, faço de uma visão mais macro”, revela.

Fato: a tela que descrevemos no início deste texto lembra, demais, a proposta de Hopper. E essa visão ampliada sobre a cidade significa não se ater apenas aos monumentos, mas inserir o cotidiano e histórias em suas obras.

“Eu pinto quadro sobre Graminha. Graminha era um cara que, nos anos 70, era pago em Brasília para tomar bola de criança”, conta. Eram como policiais, que percorriam as superquadras com essa missão, de recolher as bolas do futebol da molecada. A prática era proibida no gramado. “Eu tô saindo um pouco desse formato tradicional de pintar Brasília, de monumento. Meu trabalho está focado nessa pegada da cidade: de trabalhar com a memória e como essa memória me influenciou”, atesta.

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