Dias melhores?

Aldeia Maracanã. Foto: mantelli, no Flickr
Aldeia Maracanã. Foto: mantelli, no Flickr

“Depois da tempestade sempre vem a bonança” – Bíblia

“Transportai um punhado de terra todos os dias e fareis uma montanha” – Confúcio

“Deus nunca fecha uma porta sem abrir uma janela” – Dito popular

“Relaxa e goza” – Marta Suplicy

(Re)comecei bem clichezão mesmo, na base do sentimento e da esperança. Quando Marta assumiu o Ministério da Cultura, em setembro do ano passado, embora desconhecendo seus vínculos com o chão de fábrica da arte e da cultura brasileira, respirei aliviado e torci para que o setor ganhasse, com ela, dias melhoras.

Explico: nos últimos anos, o ministério teve um ministro bom, Gilberto Gil; um muito foda, Juca Ferreira; e uma desastrosa, Ana de Hollanda, na fase 1 do governo Dilma. Em sua gestão, um enorme acúmulo de medidas desastrosas. Dias após assumir a pasta, ela tirou o selo do Creative Commons, licença que permite o livre compartilhamento de conteúdos (a chamada licença aberta). Veio polêmica na principal política pública do ministério, a Lei Rouanet, com a autorização para que Bethânia captasse um milhão de reais para seu blog. Veio a decisão de deixar os Pontos de Cultura – dos projetos mais democratizantes que o setor já viu na história – à míngua. Veio o empurrar com a barriga de projetos importantes, tais como o Vale-Cultura, o Plano Nacional de Cultura e a falta de protagonismo frente à PEC 150 – que preza que 2% da arrecadação federal seja destinada ao setor, 1,5% da arrecadação estadual e 1% da arrecadação municipal.

Logo, de importante, faltou tudo para a Cultura nestes últimos dois anos.

Desde que Marta assumiu, temas importantes voltaram à ordem do dia, a exemplo do Vale Cultura. Agora, esta declaração dela, de dois dias atrás, me faz respirar um cadim mais aliviado:

“O Brasil é um país que respeita e valoriza a diversidade. Cada vez mais isto é reconhecido no mundo. Esperamos que prevaleçam o interesse na preservação do patrimônio material e imaterial e a sensibilidade do governo do estado”

Refere-se à ocupação do histórico Museu do Índio, na região do novo Maracanã, no Rio de Janeiro. Querem derrubar o edifício, reitero, histórico, e construir bobagens esportivas que serão subaproveitadas no pós-Copa e que bem poderiam ser feitas em outro lugar. A desculpa oficial é que o local “nem tombado era”. Dois erros aí: que não tenham tombado e que queiram, literalmente, tombá-lo – agora, no sentido de derrubar.

Aos que acham que preservar patrimônios não é algo importante, recomendo um passeio por Paris, Londres, Roma e Lisboa. Hoje, em resposta ao posicionamento da ministra, o governo do Rio diz que o prédio federal estava abandonado há anos (como se este argumento tivesse qualquer relevância para a questão patrimonial) e que ele é, na verdade, “um desrespeito” ao conceito de aldeia indígena. Foda-se. Não foi o que pensaram aqueles que conceberam o local, 150 anos atrás. Conceitos mudam o tempo todo. Não podem justificar a demolição de patrimônios – materiais e imateriais.

No placar, agora: Relaxa e Goza 1 x 0 Copa do Mundo

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