foto: lucianoviana, no Flickr

O que é a chuva?

foto: lucianoviana, no Flickr
foto: lucianoviana, no Flickr

A chuva é a vontade do céu de tocar o mar. Longe de mim querer estabelecer esta como uma verdade absoluta, mas a definição é, na verdade, um refrão de Marcelo Jeneci, mantreado na apresentação do cara ontem, no Teatro Oi Brasília, que não sai da minha cabeça desde então.

O músico não consegue compor as estrofes dessa música: apenas o refrão, com este e mais uns dois versos. É assim que ele se faz mago: hipnotiza seu público que, encantado, quase extasiado, bloqueia-se para o que houver além dos sofejos poéticos de um refrão que não pretende ser música: apenas um refrão.

Aliás, a chuva – que assim como o amor, o céu, o mar, parece tema predileto de quem compõe – é homenagem recorrente na obra de Jeneci. “Felicidade”, o primeiro hit, aconselha: “melhor viver, meu bem, pois há um lugar em que o sol brilha pra você. Chorar, sorrir também, e depois dançar… Na chuva quando a chuva vem”. É possível a mente desvencilhar-se das imagens de “Dançando na Chuva”, o clássico cinematográfico protagonizado por Gene Kelly e sua sombrinha, ao ouvir essa canção? É.

Bom, claro que a primeira imagem à mente é essa. Mas morar em Brasília nos propicia divagações diversas, ambientadas aqui mesmo… Quem é que não atravessou a aridez da nossa típica seca castigante, aquela de junho a outubro, e pensou, ao menos uma vez, em “dançar na chuva quando a chuva vem”? Eu.

Desde que aprendi o valor do “foda-se” e passei a agir conforme minhas vontades, tive o prazer de fazer coisas desse tipo – e não apenas de pensá-las. Guardo na memória aquele dia do final de outubro de 2010, em que dancei na primeira – e ácida – chuva pós-seca. E o som do Jeneci também serve para resignificar essa lembrança, agora.

Ao lado de Laura Lavieri e de uma banda criativa, Marcelo Jeneci segura um show de música boa, meio rock’n roll, meio qualquer coisa que não consigo definir, mas que instiga uma plateia do início ao fim, sem qualquer queda de qualidade. Bandolins, acordeons, pianos, teclados, assovios – aliás, um belo acorde de assovios –, meias-luas, palmas e vozes muito bem casadas é que criam essa atmosfera mágica.

E, se não ouviu ainda o som do cara, só lhe digo que você deveria buscar algo de melhor para fazer nessa sua vidinha medíocre. Tá aqui, esse algo melhor: o site do Jeneci, com todo o som e poesia que ele te propicia.

PS: não deixe de ouvir “Dar-te-ei”. É linda e tem um quê de Waldick Soriano inexplicável, apesar de, definitivamente, não ter nada a ver.

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