
ESPECIAL// Nesta segunda reportagem do especial sobre o futuro da indústria fonográfica, conheça iniciativas de sucesso entre música e internet.
Akemi Nitahara
CD não é mais sinônimo de lançamento musical. Na internet, existem muitas opções de se ouvir o que quer: seja fazendo downloads em redes de relacionamento, em sites dos próprios artistas ou de gravadoras que disponibilizam o produto musical gratuitamente ou pago. Também há a possibilidade de ouvir sem poder baixar para a sua máquina.
Muitas idéias surgem para facilitar o acesso do fã à música. “Conceitualmente a gente tá ligado às coisas do nosso tempo, a gente sempre olhou a internet como fonte de divulgação e de expansão, abrimos o site da Trama Virtual, deu certo, aí abrimos o Álbum Virtual, deu certo, aí fizemos um outro projeto antes de tudo que era você montar o seu CD em casa, escolher a capa e três dias depois a gente entregava na casa das pessoas, funcionava, mas tinha um número muito baixo. A gente tem iniciativas, algumas dão certo, outras dão errado, a gente não tem nenhum problema com isso. É experimentar”, explica o presidente da gravadora Trama, João Marcelo Bôscoli.
No caso do projeto Álbum Virtual, da Trama, o artista é remunerado pelo trabalho, através de patrocínio. “Se ele ganhar um real por disco, ele vai estar ganhando um milhão de vezes mais do que ele ganhava, que é zero. Antes não ganhava nada, nada, nada. Agora tem artistas que ganham 8, 10, 25 mil reais com um disco”, avalia.
João Marcelo lembra que a distribuição na rede é uma opção cada vez mais empregada pelos artistas, que, dessa forma, conseguem fazer contatos em lugares em que o CD não chegaria com facilidade.
“Os números são muito bons, de download, essas coisas, e depois os discos vendem também, funciona como uma divulgação, é remunerado pro artista, enfim, é maravilhoso. Quando você coloca assim, vem aquele imponderável, né, tipo, um cara de um festival, que não teria acesso ao seu disco porque não tá na loja da cidade dele. Acontece uma série de coisas, inesperado, né, o acaso, você joga meio que pro mundo, assim, na internet e acontece o que você não espera”, conclui.
E foi o que aconteceu com o músico Bnegão, que, depois de oferecer o trabalho de graça para o público, em 2003, vendeu todas as cópias físicas e fechou vários contratos para shows.
“Pra gente isso não trouxe prejuízo nenhum. Os CDs venderam todos, na verdade, 20 mil cópias, e abriu as portas geral pra lugares que a gente não chegaria nem querendo, sacou, essa coisa de Europa foi totalmente por causa da internet. A gente foi pra lá já tocando em lugares grandes, com público grande e vendendo muitos discos, muita camiseta, a gente atingiu o estágio lá de banda média internacional, em pouco tempo, tocando em vários festivais grandes, com bandas imensas e tal e ganhando cachê grandaço, e tudo graças a isso”, resume o rapper.
Mesmo os modelos de música digital pagos tem crescido nos últimos anos. “Esse número vem crescendo. O faturamento de venda digital vem crescendo ano a ano na indústria, apesar de ainda ser 25%, a gente estima que esse número tenda a crescer nos próximos anos. É muito provável que a gente tenha um cardápio de negócios, através da internet e de telefonia celular, pra atender todas as necessidades do consumidor de acesso à música aonde e quando você quiser ouvir”, avalia o diretor da Associação Brasileira de Produtores de Disco (ABPD), Eduardo Rajo.
Rajo afirma que a tendência de venda de música digital é mundial e que ela não vem pra substituir a venda de cds, mas sim para ser mais uma opção para o consumidor. De acordo com ele, o cd vem diminuindo de preço de forma agressiva.
“Isso é efeito direto da concorrência desleal dos produtos piratas, e que obrigou a indústria a rever toda a sua estrutura. As indústrias de disco hoje são muito menores, uma capacidade de investimento muito menor, e consequentemente essa redução do tamanho pode ser repassado ao preço, que eu repito, tem caído bastante”, acredita.
Além disso, tramita no Congresso Nacional a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 98, de 2007, conhecida como PEC da música, que pode isentar de impostos os produtos musicais brasileiros, fazendo o preço cair ainda mais. Mas esse é o assunto da próxima semana.
LEIA TAMBÉM>> A primeira reportagem, com os principais paradigmas a serem enfrentados pela indústria fonográfica.