
Paulo Palavra
Uma das coisas que acho mais divertida no mundo da literatura é a tentativa de criar segmentação para os autores/livros. Ok, dá pra gente segmentar em ficção, ficção científica, não ficção, policial… mas dizer que isso é livro pra homem e aquilo é livro pra mulher eu não engulo. Digo isso pois acabo de ler “Comer, rezar, amar”, da americana Elizabeth Gilbert, título rotulado como “literatura feminina”.
Por que rotulam assim? Porque a autora conta a história de um ano de sua vida quando, saída de um divórcio complicado, resolveu passar um ano em busca de equilíbrio entre o carnal e espiritual. Para isso, buscou o prazer na Itália (comer), a paz espiritual na Índia (rezar) e o equilíbrio das duas – e como conseqüência, o amor – na Indonésia (amar). Em cada lugar, Liz ficou por 4 meses vivendo histórias cômicas e tristes, repletas de descobertas e vitórias pessoais.
Então a equação é a seguinte: vida de uma mulher + sofrimento com divórcio + busca por autoconhecimento + gordurinhas a mais na Itália + experiências transcendentais na Índia + a descoberta de um novo amor em Bali = literatura de mulherzinha. Até posso concordar que é, mas por que deixa-la restrita às mulheres? Por que nós, homens, não podemos nos render a tais histórias? Esse nível de machismo já é uma coisa tão ultrapassada, não?
Penso que se uma de nossas maiores reclamações é a de que “não entendemos o universo feminino”, por que não ler o que a elas é interessante e tentar compreender um pouquinho mais? Penso que essa é uma saída bem plausível para quem busca uma compreensão melhor do que se passa na cabeça delas.
Então, recomendo – tanto para homens, quanto para mulheres – a leitura de “Comer, Rezar, Amar” como uma forma de aprendizado e novas perspectivas sobre a vida (independente de gênero). Recomendo pela forma divertida como a autora conta seus momentos mais difíceis e por sua capacidade de rir de si mesma nos piores momentos.
Enfim, só para ilustrar como rotulam o que é masculino e o que é feminino, pouco tempo depois de “Comer, Rezar, Amar” fazer sucesso, um homem chamado Andrew Gottlieb lançou uma versão masculina intitulada “Beber, Jogar, Foder”. Bem machão, não? Ainda não li, mas pretendo.
Até que enfim um homem entende e repete esse discurso! É o que as mulheres tentam fazer o mundo entender há um bom tempo – inclusive elas mesmas, em alguns casos. Literatura, assim como arte, comportamento, programa de televisão, etc, é uma preferência que não tem nada a ver com a biologia. Não é biológico, é social! E, sendo social, pode ser mudado, alterado, e, claro, absorvido pelos homens a qualquer momento. Sem que eles deixem de ser homens por isso.
Concordo com o moço aí de cima a literatura enquanto arte não tem nada a ver com a biologia. Ninguém é menos homem ou menos mulher por ler isto ou aquilo.
É bom saber que pensas assim, que rompe barreiras, e nos traz críticas e avaliações de livros, momentos, lugares. E aprende muitooooooo.
abraço