A gigante verde

foto: La Pupuña - divulgação

AMAZÔNIA// A partir de hoje, todo sábado vamos falar um pouco aqui sobre a cultura na região. E começamos pelo Pará.

Morillo Carvalho

Falar sobre a Amazônia é in, hoje. Ser sustentável, ecologicamente correto ou ecochato é super legal e tá na moda. O que ainda se fala muito pouco é que, sob as imensas castanheiras e mognos, à beira dos mares de água doce que se abrem e pulsam na selva, ou nos clarões abertos pelas motosserras anos atrás, hoje transformados em cidades, tem gente fazendo arte. Muita arte e muito boa. Gigante pela própria natureza, a região também é gigante pela própria cultura. E aqui, todo sábado, vou falar um pouco sobre a arte amazônida.

Exemplo: você já ouviu a guitarrada paraense? Pois este ano ela está fazendo 50 anos e foi criada pelo Mestre Joaquim Vieira. “Eu comecei a misturar o mambo, a salsa, o merengue, ritmos caribenhos, com choro e jovem guarda. Achei que tínhamos que criar um ritmo nosso, pois não tínhamos. E assim nasceu a guitarrada”, disse o próprio, simpático, ao celular. Neste blog, tem todas as informações sobre ele, contato para shows, agenda, etc. E quem cuida de sua produção/assessoria de imprensa é a Luciana Medeiros, que tem um excelente blog, o Holofote Virtual, sobre o qual já falei no #FollowFriday da sexta passada.

Em Belém, é efervecente o rock, o tradicional carimbó e o brega. Ou melhor, o tecnobrega. E esquece o tal do Djavu, que sai dizendo por aí que é tecnobrega, que não é bem por aí… Tecnobrega é a mistura do tradicional brega paraense com ritmos eletrônicos. Muitos nem tem letra, e o ritmo é mais alucinante do que o que se toca em muita rave por aí. Tão alucinante que é difícil dança-lo a dois, o que fez com que criassem o tecnomelody – variação um pouco mais melódica para permitir uns agarrinhos.

Esse tecnobrega/tecnomelody não é conhecido no restante do país, só tem por lá. É um fenômeno. E desenvolveu um modelo de negócios próprio, que se vale da infraestrutura da pirataria. Digo “se vale da infraestrutura” porque, sendo consentida a venda entre os ambulantes, não é pirataria, certo? O que os artistas fazem é colocar seus dvd’s e cd’s nas bancas das ruas, para a população, a preço de dvd/cd pirata. E ganham dinheiro? Sim, mas não com a venda e sim com patrocínio. Quem patrocina os artistas coloca seu material publicitário espalhado pelo ambiente dos shows e festas. O dvd é gravado, e então a marca aparece no dvd e para todos os que compram. Nos cds, mesma coisa. Toda festa de tecnobrega é animada por um locutor, encarregado de falar o nome do patrocinador o tempo todo. Legal, né?

Esse assunto já virou até pesquisa da FGV, disponível para download no Overmundo. Já conversei também com os caras do La Pupuña. A banda se formou na faculdade de artes, em Belém, e faz rock cheio de ska e de guitarrada – no fim das contas, o som fica meio Manu Chao, mas diferente de tudo. Eles também já fizeram uma compilação só de Pink Floyd em sons amazônicos, autorizados pelos originais e tudo. É sensacional, e a um clique você pode conferir.

Semana que vem, vamos conhecer a cena musical do Acre – que é muito legal, por sinal.

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