Como será o amanhã?

  

foto: Sambalogic, no Flickr

ESPECIAL// Responda quem puder: como será o amanhã da indústria fonográfica? Toda semana, essa questão será discutida aqui…   

Akemi Nitahara*  

Já faz alguns anos que o download de música pela internet parou de ser polêmica e se tornou realidade para muitas pessoas, como o jovem Chiaro Trindade, que não compra mais CDs. “Eu procuro na internet as músicas que eu quero, porque num CD, nem todas as músicas eu gosto. Na internet, seleciono as que eu vou escutar no carro, em casa, e descarto as que eu não quero”, relata. 

Chiaro cita a praticidade de se ouvir a música que quiser aonde quiser, em celulares e tocadores de MP3. E complementa as vantagens: “na internet você consegue achar meios legais pra baixar, pra comprar aquela determinada música, é bem melhor do que você comprar o CD, porque além de ser caro, você não usufrui dele todo”.  

O discman, por exemplo, que era o reprodutor portátil de CDs, não existe mais. São mudanças proporcionadas pelo avanço da tecnologia. E o mercado da música precisa se adaptar a essa nova realidade. Há 10 anos, o faturamento da indústria fonográfica brasileira era de R$1,1 bilhão por ano. Já em 2009 , o setor faturou R$360 milhões. Queda de 70% na venda de CDs e DVDs.  

De acordo com o diretor da Associação Brasileira de Produtores de Disco (ABPD), Eduardo Rajo, vendas pela internet e telefone já respondem por 20% do faturamento do setor no Brasil: “isso é um modelo de negócios que tá crescendo no Brasil, no mundo de uma forma geral, e o Brasil é tido aí como um mercado bastante importante pra indústria fonográfica mundial quando a gente pensa em vendas digitais. É um caminho natural que vem se estabelecendo e vem se renovando a cada ano”.  

Eduardo Rajo diz que a indústria está se adaptando. “O que eu acho mais interessante é que a gente não vai ter um modelo exclusivo de comercialização de música, seja por internet, seja por celular. A gente vai ter dezenas de modelos, inclusive modelos em que eventualmente o consumidor nem pague pra ter acesso à música”, diz.  

É o caso da gravadora Trama, que não é associada da ABPD, e que há dois anos e meio oferece o modelo gratuito para o consumidor e remunerado pera o artista. É o Álbum Virtual. “Você pode entrar em cada álbum desse, folhear, baixar os extras, você pode baixar a capa direto pro seu tocador de música digital em jpeg, ou você pode printar, se você quiser, em alta resolução, você pode baixar as músicas todas, toda a navegação, e é tudo de graça, o artista recebe do patrocinador”, explica o presidente do selo, João Marcelo Bôscoli.  

Esse modelo é igual ao da televisão, jornais, revistas e rádios em geral, onde a publicidade paga o trabalho de quem faz. Bôscoli lembra que, dessa forma, quem baixa música é estimulado a procurar o site que oferece o produto legalmente, já que o artista recebe por cada download feito.  

“O artista tá ganhando uma receita que ele já tinha perdido, né, porque a música dele já está na internet e ele não ganha nada com isso. No nosso caso a música dele está na internet mas ele tem a chance de ser remunerado por isso. Então o fã, entre pegar a música de graça em um site que não paga o artista ou pegar num site que paga o artista, como há uma relação emocional entre o fã e o artista, a tendência é que ele pegue aqui”, completa.  

Mas colocar o disco na internet também pode ser uma forma de posição política. Caso de Bnegão, um dos primeiros a oferecer o trabalho de graça para o público: “na época tava tendo o primeiro ataque das gravadoras contra a galera que baixa música, né, os fãs do Metallica, processando a molecada que tava baixando e isso tava me incomodando bastante. Hoje em dia já tá mais equilibrado… Por isso eu coloquei o disco pra baixar também, como uma questão política também”.  

O primeiro disco dele, BNegão e os Seletores de Frequência – Enxugando Gelo, foi lançado em 2003, ao mesmo tempo para venda e também para download gratuito.  

*Akemi Nitahara é repórter do radiojornalismo da EBC. As reportagens foram produzidas para o seu quadro de cultura no noticiário Repórter Brasil, e gentilmente cedidas para publicação aqui. // Em breve, replicamos a matéria em áudio.

2 comentários sobre “Como será o amanhã?

  1. Sou contra a pirataria, mas num país em que um DVD simples, sem disco extra, sem encarte legal, chega a custar R$ 44,90 é o mesmo que pedir para que a grande massa de consumidores fique na ilegalidade.

    É preciso, sim, discutir o futuro da indústria. Mas lutar contra os downloads é ficar “enxugando gelo”, como no título do álbum do BNegão. As gravadoras precisam enxergar a internet como uma aliada, não como vilã. Como diz o ditado, “se não dar para vencer o inimigo, junte-se a ele”.

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