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Os perfumes de Lily…

imagem: Bianca Carvajal (internet)

Karla Lucena

Ouvi dizer certa vez que “meninas boas vão para o céu e as más vão para onde querem”. Na minha vaga interpretação a respeito da frase diria que meninas malvadas vivem mais, e dizendo viver me refiro a toda complexidade embutida dentro de uma vida.

Imagina uma menina tímida, perdida em seu mundo e em um silêncio que às vezes grita, um olhar distante, uma fragilidade vista a olho nu, uma sensualidade sutil, enfim um ser rodeado de mistérios.

Conviver com ela, era quase decifrar a saída de um labirinto.  Saber seus destinos era impossível, mesmo para os mais velhos marinheiros. Ela passava uma noite sob a lua de Paris e um nascer do sol no Japão. As horas na sua vida pareciam não ter minutos, os segundos se passavam como meteoros e junto com eles parte de suas sensações e de seu corpo eram lançados para fora de sua natureza humana.

Ela sonhava com luxo, boa vida e dinheiro, muito dinheiro. Não era ambiciosa, o que a motivava era o tempo, tempos passados… tempos presentes. Por toda a sua vida ela teve o amor. Um amor que feria, machucava e muitas vezes sangrava. Sentia vergonha, mas não abandonava suas origens, apesar de ser flexível a qualquer tipo de costume e realidade.

E em meio a todo esse turbilhão de incompreensíveis e antagônicos sentimentos, um homem que sempre foi menino acompanhava de um modo, incontrolavelmente obsessivo a menina. Ele não vivia em função dela, mas quando ela entrava em sua vida e isso era sempre de uma forma inusitada, ele passava a ser ela, era como se ele não existisse. E todo abandono e sumiços cinematográficos que ela promovia no passar dos anos, era morte em vida para ele.

Ela contava para ele mentiras-verdades. Ele era ilusão, e ela realidade, ou vice-versa. Ele sempre estava ali, ela sobrevivia como um nômade mesmo nas horas em que fechava os olhos. Os dois juntos faziam vulcões entrarem em erupção. Os dois separados se deterioravam.

Uma história de amor irreal, em um mundo palpável e concreto. Era o Peru da ditadura militar, Paris e Londres em suas transformações e aberturas das décadas de 70 e 80 e Japão dos grandes negócios clandestinos e seus famosos chefões.

E finalmente a frente das 302 páginas do livro Travessuras da menina má, o grande autor sul-americano Mario Vargas Llosa.

Fica a dica de uma leitura, cuja algumas essências tentei passar nas palavras desse texto. Afinal a fórmula dos perfumes de Lily espalhada pelos lugares onde passou fica a espera de suas próprias inalações.

p.s: Nesse primeiro post, aproveito para agradecer o convite do Morillo Carvalho para escrever nesse blog. Espero contribuir com o propósito do Drops Culturais. Obrigada!

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