Sobre o Cordel e outros finais

Morillo Carvalho

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foto: birds in her mind, do Flickr

O Cordel do Fogo Encantado acabou e eu confesso que não sentirei a menor falta. Sempre achei a banda meio pimba, bem adequada para aquela galera intelectualizada que curte som alternativo e fica blasé pra qualquer proposta mais pop. E eu, blasé pra essa galera. O fato é que o Cordel acabou, de forma mal explicada, mas acabou. E uma banda razoavelmente famosa que acaba me lembra de outra, mil vezes mais famosa, dona do melhor rock brazuca que já existiu – opinião minha – e que também acabou. O Ira!

Pra quem não acompanhou/não lembra, foi em setembro de 2007, quando rolou uma avalanche de disses-me-disses entre eles. Nasi (o vocalista) disparou numa entrevista que sairia da banda pra sempre, e que o fim do grupo era quase certo – desmentindo depois que era um “vazare”, mas umas férias longas. Edgar Scandurra (guitarrista, aliás, o melhor do mundo) e os demais, disseram ó, quer sair, vaza, mas a gente continua. E juntou o Ricardo Gaspa e o André Jung, os outros dois membros, e entraram com uma ação na Justiça pedindo a dissolução da sociedade com o Nasi. Daí o irmão do Nasi, que era o empresário deles e dos Raimundos, espalhou um vídeo em que o brother o ameaçava de morte, dizendo que ele tava ficando louco. E o Ira!, que continuaria, só que com o nome de Trio, desistiu da idéia meses depois. Uau, final rock’n roll, né?

Claro que eu resumi pra caralho e que essa foi uma história cheia de meandros. O fato é que nenhum deles parece se conformar com o fim da banda. Ano passado, na festa De volta aos anos 80, o Nasi foi a atração surpresa, para a minha felicidade. Mandou um “Envelheço na cidade” em pleno 20 de abril, véspera do aniversário de 49 anos desta Brasólia. Scandurra, numa edição da Trip do ano passado expôs sua tristeza com o término do quarteto. E eu, porquê recupero tudo isso? Por causa da minha preocupação com o órfão dos caras, o invisível DJ.

Invisível DJ é o nome do último CD deles, em divulgação à época da crise. Um excelente disco, revelando a maturidade dos caras – bom, pelo visto, maturidade musical apenas – que se embrenha em misturas bem-sucedidas com sons eletrônicos (de cara, com a música Sem saber aonde ir), uma música em espanhol, e temas bons de se ouvir – tipo o drama bem humorado de Mariana foi pro mar, cujo marido saiu pra comprar cigarros, desapareceu, e foi visto no Japão.

Na faixa “O Político”, o recado é claro e o atual momento da crise palaciana no DF só me faz lembrar dela. Cantada em primeira pessoa, olha só o que ela diz: “você votou em mim / eu te decepcionei / você vai acreditar se eu te disser que mudei?”. E isso de cara, seguindo para o que certamente diria boa parte dos fanfarrões da política, caso tivessem que falar tudo o que pensam.

Um disco perdido. Uma preciosidade desconhecida do grande público, sem qualquer sucesso – talvez “Eu vou tentar” esteja ainda na memória de quem assistiu ao clipe dirigido por Selton Mello, na MTV. Recomendo fortemente, caso dê a sorte de encontrá-lo numa cumbuca de cd’s a 12 contos nas Americanas.

Para saber tudo o que acontece com os ex-Ira!, o vocalista da (bem boa) banda Rockstrada, Rafael Pompeu, mantém um site chamado Mundo Ira!, com um arcabouço bacana de informações sobre o grupo, desde antes dele acabar. E você, acha que existe final feliz no rock’n roll?

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