Gula, alta cultura e… putaria

Morillo Carvalho

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foto: Mariana Clara, do Flickr

Acabo de encerrar mais uma sequência de livros. Leio o que está na estante – pois tenho obsessão por leitura e vivo comprando aquém da minha capacidade de ler – e sem critério. E escrevo porque tenho medo de me esquecer. Medo? Sim, medo. Eu não sei como você é, nem o que lê, ou mesmo se lê. Mas te digo que toda vez que eu termino um livro me sinto meio só, órfão daquela história que me acompanhou por dias, por vezes semanas – nunca meses. Aliás, apenas o Saramago esteve comigo por meses. São histórias que me envolvem por um período, a ponto de me sentir parte delas, mas que passam por mim, sem qualquer compromisso de tornarem-se perenes. E nas últimas três semanas, me embrenhei em gula, alta cultura e, só pra variar, em putaria.

Escolho livros por suas capas, textos de orelha e contracapas. Chamou a atenção na prateleira da livraria? As prestações que me agüentem. E destes três últimos livos, dois foram comprados assim: A segunda vez que te conheci (Marcelo Rubens Paiva) e Uma paixão por cultura (Carlos Eduardo Palleta Gomes). O outro, o Clube dos Anjos, do LF Veríssimo, o tinha há uns quatro anos na prateleira.

Percebe que essa sequência mais se parece com uma balada? Primeiro, saidinha. Cinemina, vinhos, boa música. E nessa preliminar, mergulhei em “Uma paixão por cultura”, do para mim desconhecido Palleta Gomes. De fórmula aparentemente fácil, pode ser também uma autobiografia velada bem boa, mas que traz um rico conteúdo para quem quer se jogar em Shakespeare, cinema de arte e artes plásticas. Até sobre Apocalípticos e Integrados o livro fala. E o saldo? Positivo. Três dropezinhos para ele.

No segundo momento de minha balada literária, sexo. “A segunda vez que te conheci”, do Rubens Paiva, é um romance que narra a trajetória de um jornalista decadente que se torna cafetão por acidente. E de sua busca incessante pela reconquista da amada, a primeira esposa – que se separa dele logo no primeiro diálogo do livro. Curiosamente, é com separações que começam o primeiro dessa mini lista e também o Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios, sobre o qual já falei aqui. Marcelo Rubens Paiva, marco da geração anos 80 de escritores, ganha cinco dropezinhos pela obra.

E depois do sexo, como depois das drogas: larica. Fome. Gula. Encerro minha balada fartando-me à mesa, na companhia de Daniel, um dos anjos de Luís Fernando Veríssimo, em Clube dos Anjos. A narrativa deliciosa de um clube de amigos que tem em comum a paixão por alta gastronomia. E, cheias de enigmas à lá LFV, as mortes de cada um deles. Se você só conhece o escritor por suas crônicas, recomendo: pare de perder tempo e vá aos romances. Este, o Clube dos Anjos, não é dos melhores dele, tá? Pra mim, que ainda não li “Os espiões” (último dele), o top é Borges e os Orangotangos Eternos. Por causa da comparação com os demais livros desta lista e com os outros dele, de mim, o Clube dos Anjos ganha quatro dropezinhos.

Fim de balada = solidão. Saudades de todos esses, mas agora viajo para a Índia. Lendo um livro de um escritor indiano jovem, que não está à mão agora, mas está interessante. Conto depois.

2 comentários sobre “Gula, alta cultura e… putaria

    1. Xavier, nenhum dos livros é alta cultura – e não foi o que disse.

      O título é “Gula, alta cultura e putaria” para remeter aos temas tratados nos três livros. Gula em “O Clube dos Anjos”, de Luís Fernando Veríssimo; alta cultura é tema de “Uma paixão por cultura”, de Eduardo Palleta Gomes; e putaria é o tema de “A segunda vez que te conheci”, do Rubens Paiva.

      Obrigado pela leitura!
      Abraço, Morillo Carvalho (editor)

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