
Depois de dois protestos de nossos amados leitores, voltamos. Juro que não estávamos fazendo “toba com glicose”, foi um misto de várias coisas que impediu que não trabalhássemos em parte desse mês – a overdose desses drops nos levou a clínicas de recuperação e eu cheguei até a ouvir um pagodinho. Brincadeira! Mas, por hora, continuo sozinho: a essa hora, Ana Luiza Zenker (a outra hipocondríaca que faz este Drops) já deve estar no Haiti (onde ficará por toda essa semana, a trabalho). Ela prometeu que, se ver algo interessante e com contornos medicamentosos, escreverá para essa farmácia quando voltar. Camila continua se dedicando aos pedais.
Como para nós a voz do leitor é a voz de Deus, e o Rafa pediu, vou preencher uma lacuna deixada por nosso antepenúltimo texto: os comentários sobre Cidade em Plano, espetáculo da AntiStatusQuo Cia. de Dança (DF), que se apresentou no Cena Contemporânea.
Teve também a quarta edição do Festival Brasília de Cultura Popular. Fui na abertura, que foi bem legal, como nas duas últimas edições, nas quais, estive presente. O grupo Seu Estrelo e o Fuá do Terreiro, que organiza o evento, deu ares de grandiosidade à atração, bem diferente de dois anos atrás. Cresceu o profissionalismo e a oportunidade de posicionar o evento como um grande destaque na cultura candanga. Valeu pessoal! Como não vou me alongar – prometo escrever mais sobre o Seu Estrelo depois – cá está um belo link em que você pode baixar o mito do Calango Voador. O site do Seu Estrelo é este aqui (dedada).
Bom, Cidade em Plano. Absolutamente nus, Karla Freire, Marcela Brasil, Rafael Villa e Robson Castro parecem entrar em catarse em cena. À entrada, o espectador é orientado a “seguir a luz azul”: o palco da sala Plínio Marcos, da Funarte, não será ocupado apenas pelos bailarinos, mas por todos. E o público deve ficar nos círculos abertos no chão pela luz azul. À frente, os dançarinos.
Clarice Niskier, em A Alma Imoral, enfrenta o público nuinha, como contamos em julho. E este enfrentamento provoca uma reflexão sobre o quão difícil é encarar a nudez alheia. Ainda mais quando são duas mulheres e dois homens, no caso de Cidade em Plano. Mas atravessada a dificuldade, é fácil perceber que os dançarinos contam, com os corpos, uma narrativa sobre Brasília. Com dança e postais da Catedral, do Congresso, de personagens e de pontos turísticos da cidade.
A narrativa termina com uma bailarina completamente vestida por postais brasilienses iguais, formando um vestido que parece de festa. Falam, assim, de repressão aos corpos, de uma política fajuta centralizada por essas paragens que deixa o cidadão cego e alheio às suas realidades tão claras quanto a nudez dos bailarinos. Algumas mensagens não ficam claras, infelizmente. Num momento do espetáculo, por exemplo, os artistas calçam um postal com a foto de um personagem da capital. Impossível reconhecer quem era. Imaginei que fosse Mestre Salustiano, mas não dava para entender. Essas pequenas falhas de comunicação podem ser perigosas: já que se trata de uma apresentação de dança contemporânea (portanto, sem fala), uma quebra assim pode representar descontinuidade na narrativa, e o público passa a não entender mais nada.
Outro ponto falho: demora demaaaaaaaaais. Como o público fica em pé, se cansa. Não dá, pessoal da AntoStatus Quo: cortem sequências, condensem, façam o que for, mas diminuam. Fui à platéia sentar-me duas vezes, porque era impossível seguir aquele ritmo de vocês em pé! E, sentado, você perde uma série de percepções sobre o espetáculo. Mas o balanço é positivo.