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Forró politizado?

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A-ha, quê isso? Ele está politizado... Foto: receitando.com

Até agora, neste blog, apenas a Ana Luiza se arriscou a falar sobre televisão. Eu, como telespectador convicto (e invicto na minha casa, deixando por vezes minha mulher bem puta), me atrevo a elogiar a MTV. Recebo por sinal aberto, é o canal 32 UHF, e, sob o lema “MTV até a raiz”, vejo boas novidades na programação deste ano. Ao contrário do ano passado, quando a emissora dissipou sua principal característica histórica – a veiculação de videoclipes – para a internet, no Overdrive. Pois é, eles reveram a posição e estão bacanas. Então me deparei com uma entrevista com o Tato, vocalista do Falamansa, e resolvi prestar atenção.

Nunca levei a sério o trabalho dos caras. Falamansa era tipo “Falasério”, na minha cabeça. E é claro que eu jamais comprei um CD deles, porque não gosto e pronto. Mas tão engraçado quanto me deparar vendo uma entrevista sobre o forró do Falamansa, prestar atenção no que o cara tava falando, pensar (e executar depois) num texto para o Drops, é saber que um cara de 30 anos, como o vocalista da banda de forró, descubriu, tempos atrás, um tumor no cérebro.

Ele nem tocou no assunto no bate-papo. Eu descobri depois, lendo o release sobre o 6º CD deles, com o sugestivo nome de “Segue a vida”. Tato já se recuperou da doença e a experiência, claro, foi transformadora. Sei lá se os valores dele mudaram ou qualquer coisa do gênero. Mas que fez com que, musicalmente, eles trouxessem propostas novas, ah, isso fez sim.

Ainda é forró. Mas a mensagem é diferente. Some o “dance o xote da alegria”, entra o “não haveria a guerra se não fosse a ignorância, não haveria acordo se não fosse a paz”. Clipe com cenário distante das palhoças (casas de forró) paraibanas, com pessoas rindo grandão e encoxando-se mutuamente: agora eles se preocupam com o meio ambiente e gravam num barco, em pleno Tietê paulistano – o rio megapoluido e megafedido que corta a maior e mais legal cidade do país.

Também fazem campanha em prol da construção de cisternas no semi-árido nordestino, distribuem sacolinhas em praias para evitar que os restos dos porcalhões venham parar no chão. Imprimem o encarte do CD em papel reciclado. Deixam a grande gravadora em prol da independência – tendência na música brasileira? Enfim, se apropriam de seus instrumentos, tocam o que desejam, mas falam de coisa séria. Evidente que, ainda assim, são elementos insuficientes para transformar-me em ouvinte. Mas não dá para ignorar que poucas são as bandas do mainstream que conseguem amadurecer desta forma.

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