Édipo, Jocasta, luxúria, pecado, lascividade. Pra lá de conhecida, a obra de Sófocles (Édipo Rei) ganha hoje (1°), em Brasília, contornos mais que sedutores. Lapidada pelo talentoso Hugo Rodas, diretor de renome e que provoca verdadeiro terremoto por essas paragens de cerrado amarelo da seca, a trama ganha vida nos corpos dos igualmente talentosos Adriana Veloso e Thiago Benetti.

No palco, a clássica história da mãe que se apaixona pelo próprio filho, abandonado ao nascer e assassino do pai, ganha contornos de contemporaneidade a lá Hugo Rodas: em princípio, os atores detalham que a vida nada mais é do que um jogo, só que os jogadores são as próprias peças. Em seguida, um programa de televisão, um game show daqueles bem ao estilo SBT, dá a Édipo a vitória, e a rainha como presente. Da contemporaneidade televisiva, entra em cena a história tão conhecida de Sófocles. Só que da maneira mais íntima. Intensa. Carnal. Visceral.
Um casal em sintonia profunda, que se contorce em cena como se fizessem sexo, sem nudez. Talvez porque ela se torne desnecessária ante a interpretação. A atualidade também entra na construção do cenário: aqueles panos “intrépida trupe”, que caem do teto ao chão do palco, permitem coreografias aéreas que quebram o texto erudito e a tendência à monotonia de cenas de diálogos grandes; uma cama que é de água e não de colchão, e que tem chamas ao redor dão um tchans na última cena de sexo, mortal para ambos, pois já sabem ou desconfiam que são mãe e filho. Mas são poucos os elementos cenográficos. Hugo Rodas optou por atuação e luz para cumprirem qualquer vazio no palco.
Você acha um absurdo uma mulher mais velha se casar com um homem jovem? Não responda: assista os goianos da Cia. Benedita de Teatro, pois eles mandam muito bem. Em cartaz pelo Cena Contemporânea amanhã, no Teatro Plínio Marcos (Funarte, Eixo Monumental), às 19h30, e quinta-feira (4), no Teatro Sesc de Ceilândia, às 20h.