
Tudo bem que é meio velho falar sobre um filme que já provocou tanta polêmica – o Turistas. Mas estou aproveitando o gancho da primeira exibição massiva e pública do filme por aqui, que aconteceu ontem à noite, na Super Tela (quartas-feiras, lá pelas 23h, na TV Record), para trazer pra cá algumas questões que fogem do debate sobre preconceito.
Só pra situar, trata-se de um longa sobre um grupo de 8 jovens que resolve fazer turismo aqui no Brasil e, depois de farrear, aproveitar nossas garotas e bebidas, terminam sequestrados e cinco deles mortos após terem seus rins e fígados retirados por um médico que resolveu fazer justiça com as próprias mãos e bisturis, para compensar tudo o que a gringaiada já roubou do Brasil, ao longo dos seus 500 e poucos anos.
Sim, o filme é caricato. Mostra o brasileiro como um bando de gente imbecil, ignorante, com suas putas fáceis e exploradoras. Pior: um povo “espertinho”. Receptivo, mas que depois de fazer a festa com seus turistas, abandona-os ao léu. Sem um tostão. Tá, não dá para negarmos que histórias de turistas assaltados na orla carioca ou de Fortaleza são mega comuns. Só não precisava retratar-nos como se vivêssemos no paleolítico (idade da pedra lascada), um bando de mongóis selvagens. Enfim, a visão sobre nós é pedante.
Entretanto, na arte rola uma certa “licença poética”. Ou seja, o cara faz a história que quer. Porque é tão fácil, pra nós, massacrarmos o cara só porque ele ambientou sua história no nosso território? Se fosse no Zimbábue, teríamos a mesma reação? Não, evidentemente. Somos bairristas mesmo. Temos o direito de ser. E isso não significa que eles são etnocêntricos. Arte é arte, o cara faz o que quer. Paciência… Por isso, passemos deste debate a outro e veremos que… Enfim, o filme é uma bosta.

O argumento – roubar de vocês para doar a hospitais públicos, já que nos furtaram muito sempre – é até plausível, meio romântico a la Robin Hood. De resto… Tudo, enfim, é mega ruim.
Os turistas viajam de buzão por uma estrada de terra mega escrota, com um motora mega escroto, que acaba por deixar o veículo tombar numa ribanceira. Antes que caia, todos se salvam. Eles, sem saber o que fazer, resolvem ir até uma praia, a quilômetros dali, para beber algo. E enfim, o próximo buzão demoraria horas e horas ainda…
Na praia, que eles foram parar por acaso, passam a noite, regados a caipirinhas, mulheres, funk e hip hop do Marcelo D2. Acordam saqueados. Vão até o vilarejo próximo, bem pobre, onde atua a quadrilha do médico maluco. Eles teriam que ser levados até a casa dele, em plena selva “mata-atlantiquense”, atravessando rios e cavernas cheias d’água…
Bizarro! 1 – se a organização quisesse arrecadar rins e fígados, porque atuaria numa praia que recebe tão poucos turistas? 2 – turista não vai a praia de pobre. Tanto que eles não iam para lá, iam para um lugar ‘x’ e foram parar lá por obra do mero acaso. 3 – se a praia era deserta, porque é que a casa das experiências macabras era no meio da selva? E o médico, que chega a ela de helicóptero? Enfim, o roteiro não convence.
Outra falha grave: embora trate-se de um drama, para que os turistas gostassem tanto daquela praia que foram parar do nada, ela deveria ser mais bonita. A fotografia pecou demais. Mal dá pra notar a dimensão do paraíso que eles se referem. Cenas da mata atlântica vista de cima, que certamente deveriam servir para mostrar o quão grande era a selva, não funcionaram com o plano limitado da câmera. Enfim, a fotografia é ruim.
Última: sem dinheiro, sem documentos, sem nada, eles vão embora ao som de Adriana Partimpim (a Calcanhoto infantil), em “eu não existo longe de você…” Gostaria de tê-lo, desestimulado a assisti-lo, nobre leitor, para contar-lhe qual “enfim” daria fim a esta última frase. Enfim, precisa?
* As fotos são de divulgação