Cai por terra o velho dilema: “é arte, é esporte ou é luta?”. Está resolvido: é patrimônio cultural imaterial da humanidade. A capoeira ocupa agora o 14º lugar do ranking de bens culturais brasileiros a deter o registro do Iphan. Tudo bem que eu não tenha lá muito contato com a secular arte, mas não podia deixar de registrar essa notícia por aqui. Afinal, ela agrega multidões e dá sentido a inúmeras comunidades.
Uma das coisas mais interessantes que já li a respeito foi na extinta [e excepcional] revista Nossa História, que era uma publicação conjunta da Biblioteca Nacional com a editora Vera Cruz. Quando a capoeira foi criminalizada, no Rio de Janeiro, ela representava, de fato, perigo. É claro que, aliado aos “perigos” da arte-esporte, vinha uma grande carga de racismo, já que era praticada predominantemente por negros.
É que a capoeira era muito mais violenta do que é hoje. Praticada por gangues, chegava a matar. Não há como emitir nenhum juízo de valor, hoje, sobre este passado – afinal, “o crime era a única forma de ascenção social do negro” – dizia MV Bill e Celso Athaíde em “Falcão – meninos do tráfico” -, especialmente naqueles primórdios de discussões pró-Abolição e da própria, que representou na verdade o “despacho” dos negros das fazendas em que eram escravos rumo às cidades, sem a criação de condições reais de emancipação.
Bom, o importante é que o reconhecimento de uma expressão saída dos guetos negros é mais um passo na valorização da cultura que os africanos trouxeram para cá. Mais importante ainda é que, hoje, a capoeira é considerada instrumento de paz. Foi o próprio Gilberto Gil quem disse isso, numa homenagem ao embaixador Sérgio Vieira de Mello, morto em atentado terrorista à sede da ONU, na guerra do Iraque (aliás, esse cara merece o post de um puta documentário que vimos no festival É Tudo Verdade, o “Sem fim à vista”, meses atrás – enquanto não fazemos isso, vai aqui uma prévia).
E viva os berimbaus! Um pouco mais sobre capoeira, clique aqui.
*Foto do site barcelona-dance.com.