Entre mimeógrafos e vinis velhos

Mimeógrafos, máquinas de escrever e discos de vinil. Pensou em quê? Peças de museu, acertei? Pois você não é o único, meu caro: esse é um pensamento generalizado, o que não significa correto. Para entender isso, basta visitar o pra lá de high tech Museu da Língua Portuguesa, em Sampa. Mas não vou falar dele agora, e sim, da militância museológica e vermelhinha, reunida em Floripa (SC) desde a última segunda-feira – no 3º Fórum Nacional de Museus. É onde estou agora – aliás, desde anteontem à noite, mas só resolvi escrever sobre isso agora porque precisei observar muito para tal.

Os quase 2 mil participantes do evento escondiam um mistério que só fui capaz de desvendar agora, quando resolvi postar que estou aqui. De tão dedicados, apaixonados, defensores de uma causa que, para eles, é quase religiosa (o fortalecimento de políticas públicas para o setor museológico no país), eles mesmos tornam-se peças de museu.

Cada ativista compõe esse grande museu da política para o setor. Cada qual narra ou representa um canto do país que grita pela preservação de sua memória, fortalecimento de sua cultura e criação de uma auto-estima local, elementos que dão razão de existir a um museu e são tão necessários neste continental país de tanta riqueza cultural.

Quando comecei o post, citando o pensamento do brasileiro de que coisa velha é peça de museu, o fiz justamente porque captei, meio que sem querer, o papo de dois ativistas da causa conversando sobre isso. Um dizia: “é comum, lá no museu em que trabalho, recebermos ligações de pessoas oferecendo um mimeógrafo velho que têm em casa para compor o acervo”. O outro: “é… as pessoas tem que começar a compreender que não é esse o papel do museu. O museu é para falar do futuro também, pois quando fazemos o recorte histórico de determinado momento, estamos permitindo que as gerações futuras compreendam a si mesmas, em seu processo de formação social”.

São estes cérebros que compõem o acervo do museu de museólogos. Queria que todas as áreas da cultura tivessem o mesmo sentimento de convergência que ocorre por aqui. Os vermelhinhos que participam do evento – assim os chamo não por causa de PT ou de CUT, é apenas por causa da cor adotada para predominar no Fórum – não estão aproveitando nada da bela Florianópolis. Estão, sim, aproveitando cada espaço oferecido pelo evento: participam dos painéis, dos mini-cursos, das conferências. É a forma que encontraram para ver o setor crescer: se mexerem.

Nem de perto imaginava que seria assim. Museologia, quando cursava o Ensino Médio, era considerada curso para quem queria entrar em universidade federal de qualquer jeito, independente do que fosse fazer. Vi que não é por aí… Um rapaz novo usava uma camiseta que me ensinou o verdadeiro sentido dos museus. Ela dizia apenas isso: MUSEU.

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