Mais uma da série “oi, eu fui, faz tempo, não escrevi, tô contando agora, e daí?”. Ela, Clarice Niskier, e apenas ela – ora crua, ora nua, sempre em prosa – conduz sozinha um espetáculo que pode na verdade ser chamado de “Dossiê que prova, por A+B, que a alma é IMORAL”. Isso, imoral. Não amoral. Imoral mesmo. Pervertida. Depravada. Enfim…
Foi no novíssimo teatro da Livraria Cultura do Conjunto Nacional – não, não o nosso Conjunto feio e sujo do centro de Brasília, mas outro, que fica na avenida Paulista. Foi em maio. Foi ótimo. Falando baixo, mas num tom suficiente para que todos a ouvissem, Niskier interpreta por pouco mais de uma hora um texto denso, complexo e filosófico. Impossível não dar uma viajada no que ela acabou de dizer e acabar perdendo o fio.
“Não tem problema”, ela mesma advertiu, logo no início do espetáculo. “É sinal de que a peça já está acontecendo em você”. Se você souber, mais ou menos, o que ela estava dizendo na hora em que viajou, então… Melhor. Basta que se lembre de uma palavra. Conte a ela, a atriz, que palavra é essa, e ela repete. Impressionante! Repete! Uma palavra, num texto tão denso! Entretanto o lembrete só pode ser pedido nos momentos em que ela pára para beber água.
O cenário? Nada. Luzes cumprem este papel. O figurino? Um pedaço de pano preto. Ele vira, dependendo do que Niskier estiver falando, um vestido de luxo, um vestidinho, um hábito, uma burca… Em outros momentos, enfrente a nudez dela – enfrente, e não estou chamando ela de feia não, olhar a nudez alheia é um dos desafios propostos em A Alma Imoral.
“Não há tradição sem traição. Não há traição sem tradição”. Assim começa o espetáculo e assim termina. Impossível chegar a uma conclusão, numa apresentação que mexe tanto com sua bateria filosófico-reflexiva. A inspiração para tanto? O livro homônimo do rabino Nilton Bonder. Se ficou com água na boca, um balde de água fria. As apresentações continuam em Sampa, no mesmo teatro que eu vi, até o fim de setembro. Tanto eu quanto você perdemos quando ela esteve em Brasília, em janeiro deste ano… Quer ter uma idéiazinha, então? Cá está o site da peça, com a trilha sonora que rola durante todo o monólogo.
Outro assunto: fiquei com vontade de ir ao Palco Giratório, rolando na capital até 2 de agosto. Se rolar, contamos tudo aqui no Drops. Clique aqui para ver a programação.
* A foto é do site Overmundo
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